Autor
Paulo Jonas de Lima Piva
Ano
2004
Resumo / Abstract

Quando pensamos na Ilustração Francesa, no assim chamado "Século das Luzes", os primeiros nomes que nos vêm à mente são automaticamente os de Montesquieu, Voltaire, Rousseau e Diderot, seguidos eventualmente pelos de La Mettrie, Helvétius e Holbach. O mesmo ocorre quando pensamos nas obras consideradas as mais relevantes do período, em particular, as de cunho metafísico e político. Os programas acadêmicos e os manuais de filosofia em sua maioria restringe-nos sobre esse assunto a obras como O espírito das leis, Tratado de metafísica, Carta sobre os cegos e, sobretudo, ao Contrato social. Contudo, uma investigação menos tradicional das idéias concebidas no Antigo Regime mostra-nos que nem só de Voltaire e de Contrato social foi constituída a filosofia francesa do século XVIII. Jean Meslier (1664-1729), por exemplo, um vigário de aldeia, escreveu com toda a sua simplicidade, por volta de 1720 - ainda nos albores do Iluminismo, portanto -, uma obra bastante singular e contundente, mediante a qual expressou sem rodeios toda a sua revolta contra a mistificação e a manipulação religiosas - em particular o cristianismo -, a filosofia dualista, a opressão política e as injustiças sociais, propugnando a união de todos os explorados e oprimidos em torno do estrangulamento do último rei com as tripas do último padre, isto é, em torno do ideal de uma sociedade baseada no ateísmo e na exploração coletiva e fraterna da terra, o que lhe garante, a nosso ver, um lugar de  relevância não apenas na filosofia política das Luzes e na tradição materialista, mas na história das idéias de um modo geral. Nosso propósito, portanto, consiste em apresentar ao leitor brasileiro a doutrina radical, precursora e influente deste pensador inusitado cuja obra ainda é praticamente desconhecida entre nós e que teve como tributários nada menos do que Holbach, Diderot e Voltaire.

 


 

Área do Conhecimento
Filosofia