O grupo de pesquisa Cultura, educação e lutas sociais abrange os períodos finais dos séculos XIX e XX, não se limitando a um contínuo de um século completo, e sim estabelecendo algumas incursões em práticas de cultura e educação impulsionadas pela luta social, situadas em regiões do Brasil, México, Peru, Colômbia e Espanha. O grupo articula quatro dimensões de pesquisa, com base nesses pressupostos, que serão explicitadas a seguir, juntamente com pesquisadores participantes:

- Doris Accioly e Silva (coordenadora) - Professora aposentada da Faculdade de Educação da USP e professora sênior do Programa Diversitas - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.

- João Francisco Migliari BrancoProfessor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo

- Luciana Eliza dos SantosPesquisadora da área de História da Educação

- Rodrigo Rosa da SilvaProfessor do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina/UEL

Dimensões da pesquisa:

- Espanha (1896-1939): Institución Libre de Enseñanza (ILE) e Missiones Pedagógicas.Doris Accioly e Silva e Luciana Eliza dos Santos

Dentro do título geral do projeto, uma das dimensões da pesquisa será o exame da Institución Libre de Enseñanza (ILE), projeto educacional considerado como dos mais importantes da Espanha, transcorrido entre 1896 e 1939; seu final foi mais uma das consequências da barbárie franquista que tomou a Espanha com a derrota da república e da revolução espanhola, em 1939, na alvorada do nazifascismo na Europa. Uma das experiências mais ricas da ILE foi as Missiones Pedagógicas, que duraram de 1931 até 1936 e consistiram num projeto de extrema paixão cultural para levar ao povo esquecido da Espanha rural, um acervo cultural e artístico representado por vários intelectuais engajados no projeto, que foram em caravanas levando cinema, teatro, poesia, pintura, e representando a dimensão mais avançada da ILE, como projeto pedagógico. Estudar esta experiência é também buscar compreender a história e sua complexidade, que se expressam no campo da educação e da cultura, como territórios da luta social.   

- México, Brasil, Peru e Colômbia: Organizações comunitárias, autônomas e movimentos sociais na América Latina. João Francisco Migliari Branco

Tendo como referência a observação do professor mexicano Luís Villoro sobre a larga impaciência indígena frente à continuidade dos processos colonialistas e da violência de Estado contra comunidades originárias e tradicionais, este docente tem como proposta a investigação e o conhecimento de organizações comunitárias, autônomas e movimentos na América Latina (com destaque para México, Brasil, Peru e Colômbia) que constroem seus modelos de educação e organização política. Esta "larga impaciência" a que se refere Villoro, assim, não é uma resistência passiva, mas sim uma resistência que cria, desafia e edifica respostas próprias a modelos homogeneizantes que anulam a diferença e autonomia nas atividades educativas comunitárias. Como estas se constituem e como redefinem a política educacional é o foco de interesse deste projeto.

- Teoria e escrita da história e história da educação na perspectiva anarquista. Luciana Eliza dos Santos

Este eixo concentra-se na pesquisa teórica acerca de alguns aspectos referentes à história como disciplina e ciência base para áreas interdisciplinares, como a educação. A relação entre teoria da história, escrita da história e história da educação será investigada tendo como pressuposto o percurso teórico-prático encampado por movimentos sociais transgressores como o anarquismo e algumas de suas faces de ação e luta social, como a educação, a arte e a cultura. Com o objetivo de circunscrever a pesquisa a um cenário sócio-histórico, a história de práticas educativas será evocada buscando percorrer bases ontológicas da história, como disciplina, decorrente do ambiente teórico-prático anarquista, abrangendo seus historiadores, suas percepções sobre tempo e espaço, sobre a historiografia e a recorrente ação anarquista de acumular e conservar fontes documentais. Supõe-se que a escrita da história das práticas educativas anarquistas é, por si só, um exemplo de duas transgressões históricas: a educativa/escolar e a historiográfica. 

- Brasil e Espanha: Francisco Ferrer y Guardia e as Escolas Modernas no Brasil (1900-1930). Rodrigo Rosa da Silva

A presente proposta de pesquisa é um desdobramento de pesquisa de doutorado realizada entre 2009 e 2013, partindo do acesso a novas fontes documentais que possibilitam a investigação sobre a recepção, circulação e apropriação do pensamento do educador espanhol Francisco Ferrer y Guardia (1859-1909) no Brasil. Como modo de compreender essa difusão do Racionalismo Pedagógico no país optamos por investigar a aparição do nome de Ferrer na imprensa brasileira, seja ela de orientação católica, comercial e de grande circulação, seja de orientação libertária, vinculada à classe operária nos primeiros anos do século XX. Pretendemos identificar as/os educadoras/es e militantes anarquistas vinculadas/os às Escolas Modernas e a outros projetos educativos e culturais fundados em diversas cidades brasileiras que tenham sido marcadamente influenciadas pela Escola Moderna de Barcelona (1901-1906) e dialogam com as propostas e práticas educativas de seu idealizador, Francisco Ferrer. Destacaremos as experiências formativas e culturais da classe trabalhadora aderidas ao ideal libertário e ao racionalismo pedagógico, os vínculos das escolas com as práticas sindicais e políticas através de fontes documentais (periódicos, folhetos, memórias, atas de congressos, etc.) e de pesquisa bibliográfica. Por fim, socializaremos os resultados através da escrita de artigos acadêmicos e organização de livros e eventos regionais e internacionais sobre as Escolas Modernas e seus impulsionadores.