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Local
Auditório da Casa de Cultura Japonesa, Av. Prof. Lineu Prestes, 159 - Butantã, São Paulo/SP

seminario potencias negras

Como parte do Colóquio Internacional “Expressão artística, discurso midiático: trajetórias e performances políticas no Brasil e França”, organizado pelo Instituto Francês de Imprensa da Universidade Paris-Panthéon-Assas (IFP) e a Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), no contexto das comemorações do Ano França-Brasil, o Seminário “POTÊNCIAS NEGRAS: Mulher Preta quando se junta ergue quilombo” foi idealizado pelo grupo de Conselheiras Negras do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável – CDESS, da Presidência da República do Brasil, em parceria com o Diversitas – Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos, da Universidade de São Paulo.
O Seminário Potências Negras, como parte do Colóquio, se inspira na transgressão de Carolina de Jesus e Françoise Ega, que subvertem ao estabelecido e criam, através de suas escritas e narrativas, uma nova maneira de comunicar necessidades, desejos e sonhos, desmontando o sistema por dentro e defendendo o trabalho decente como pressuposto para alcançar um arco de dignidade que devolva ao povo preto sua condição de cidadão.

“Se um dia eu lhe enviar estas linhas, você vai querer saber o resto da minha história. Hoje à noite, digo a mim mesma: ‘De que adianta?’. Estou cansada. Quando você juntou as tábuas para o barraco, você não conhecia a expressão ‘de que adianta?’, isso me dá uma vontade danada de escrever meus pensamentos, preto no branco, enquanto as crianças dormem (...)
Fecho uma janela em meus pensamentos, outra se abre, e a vejo curvada, na favela, escrevendo no papel que tinha catado no lixo. Eu, que tenho a imensa felicidade de ter um caderno, um abajur e uma música bem baixinho que sai do rádio, acho que seria covardia largar tudo porque uma criança rasgou as folhas do caderno. Só me resta recomeçar”.
(Cartas a uma Negra - Françoise Ega)

Neste ano em que celebramos o bicentenário das relações diplomáticas entre a França e o Brasil, o Colóquio “Expressão artística, discurso midiático: trajetórias e performances políticas no Brasil e França” e o Seminário “Potências Negras: mulher preta quando se junta ergue quilombo” também ilustram o caráter “silencioso” dessa amizade: uma relação que vai além dos acordos oficiais e dos encontros institucionais, sendo também tecida por meio de trocas cotidianas, saberes, cumplicidade, (re)conhecimento... mesmo que distantes.
A exemplo da máxima de que “Mulher Negra quando se junta ergue quilombo”, frase de autoria de Monique Prado, e inspiradas no legado e na potência dos escritos de Carolina Maria de Jesus e Françoise Ega, que relatam as desigualdades sociais e a luta cotidiana das muitas mulheres negras, pretendemos compreender como essas mulheres têm incorporado tecnologias sociais, que podem ser utilizadas por todas as mulheres, e têm se organizado para resistir e existir. Pretende-se ainda discutir como a política pública tem pautado as necessidades para esse avanço e sobre quais circunstâncias contribui na estruturação do conceito de reparação, justiça e equidade racial.
Para tanto, nos inspiramos também em duas teóricas e ativistas do movimento negro que defendem a assunção de mulheres negras como pressuposto para inclusão de todas as mulheres em espaços de existência: a francesa Francoise Vergé e a brasileira Lélia Gonzalez.
O debate sobre a necessidade da existência do mulherismo africana tem pautado a agenda de ativistas, teóricas e estudiosas da temática do empoderamento de mulheres para o fortalecimento de famílias.  Os argumentos de quem se posiciona contra consistem no fato de que, historicamente, mulheres ocupam um espaço de subalternidade, e, portanto, a divisão por raça enfraqueceria a luta. Entretanto, quando se pauta a agenda para o combate ao sexismo e discriminação, temas que são específicos das mulheres pretas deixam de ser contemplados na longa lista de conquistas necessárias para sairmos da desigualdade no percurso para equidade nos espaços.
Um outro diálogo importante a ser iniciado neste encontro é a necessidade da criação de um conceito para orientar as ações de reparação a escravidão e o papel das mulheres neste processo, considerando que, mulheres negras cuidam, acolhem, referenciam a família a avançar e não são lembradas, protegidas ou priorizadas na construção de políticas públicas de cuidado e acesso a direitos. A importância do conceito e poder avaliar quais são os parâmetros a serem estruturados para reparar as ausências e o acesso a cidadania que permanece como herança da escravidão. Iniciar esse debate é urgente: como se compensa um passado de perversidades e ausência com inédito viável, na concepção freiriana: o futuro possível a partir das utopias cocriadas pela articulação de políticas públicas e vontade política de fazer justiça racial.

Inscrições gratuitas clique aqui

programação

convidadas - potências negras

Realização:
Diversitas - Núcleo de Estudos das Diversidades Intolerâncias e Conflitos - USP
Conselho de Desenvolvimento, Econômico Sustentável, da Presidência da República (CDESS)

Apoio:
Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Federação Assespro – SP)
Instituto Francês de Imprensa da Universidade Paris-Panthéon-Assas (IFP)
Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP)
Instituto de Iconomia
Agence universitaire de la Francophonie (AUF)