IV MOSTRA MDOC/SP 2020
FESTIVAL INTERNACIONAL DE DOCUMENTÁRIO DE MELGAÇO NO BRASIL
A HUMANIDADE ATRAVÉS DAS LENTES
08, 09 e 10 de dezembro de 2021
Local: Zoom
Curadoria
Daniel Maciel
Maurício Cardoso
Sandra Nunes
Realização:
AO NORTE, DIVERSITAS/USP e FATEC COTIA.
O Festival Internacional de Documentário de Melgaço – MDOC – acontece ao Norte de Portugal, onde se encontra o único Museu de Cinema do país. Em 2014, a Associação AO NORTE - Associação de Produção e Animação Audiovisual - cria o Festival promovendo, divulgando o cinema etnográfico e propiciando a reflexão sobre identidade, memória e fronteira. Assim, identidade, memória e fronteira constituem-se como eixos fundadores e norteadores da programação do MDOC, tangenciando a problemática das migrações e dos deslocamentos humanos. Organizado pela Câmara Municipal de Melgaço e pela AO NORTE, o MDOC tornou-se um evento de referência nacional e internacional.
O Diversitas – Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos - constitui-se como um centro de referência acadêmica nos estudos da intolerância, da diversidade cultural e dos direitos humanos. Interdisciplinar, seus pesquisadores dedicam-se a temas como o direito à vida, às liberdades, ao construto cultural em suas diversidades.
Suas orientações e princípios pautaram o convênio com a AO NORTE e a organização do MDOC SÃO PAULO, pois, desde 2015, os pesquisadores do Núcleo participam do Festival e do Curso de Verão Fora de Campo, intercambiando conhecimentos e construindo um referencial teórico-prático-metodológico em etnografias audiovisuais.
A Fatec de Tecnologia de Cotia tornou-se parceira e abrigadora de atividades ligadas ao MDOC SP pois pressupõe que as humanidades se tornam fundamentais para qualquer forma de ensino e propiciam o conhecimento e respeito à diversidade.
Nesse universo de selfies, facebook, instagram, a fotografia torna-se uma linguagem permissora para a reflexão sobre as narrativas que ali se condensam e os diálogos que se pode estabelecer com a Literatura. Mário de Andrade, com o seu fotar, enfatiza dois aspectos de suas imagens: a de registro de um real e a de experimentação estética. Ambos, coincidiam com a sua proposta – e dos modernistas como um todo – de expandir os limites da criação para outras linguagens, suportes, apropriando-se de procedimentos e conhecimentos provindos de outras áreas do saber e das artes.
Toda fotografia representa pequenos fragmentos representativos de modos de vida, em que se vê as pessoas em diversas situações de atuação, em diferentes cenários, em atividades cotidianas. Toda fotografia evoca a memória individual ou coletiva, ao registrar cenas eternizadas pelo ato fotográfico.
Nesse ano, o MDOC SP traz Patrícia Barbosa, Daniel Maciel e Manuela Vaz para compartilharem seus projetos, a fim de que se reflita sobre memória e narrativa por meio de imagem. Exibe também o documentário Das Arquitecturas Tradicionais, de Carlos Eduardo Viana, sobre as “arquiteturas populares”.
PROGRAMAÇÃO
08/12 – 10 horas
Coordenação: Sandra Nunes (FATEC COTIA/DIVERSITAS-USP/FAAP)
AS QUE FICARAM
Patrícia Barbosa
Em Melgaço, de 61 a 75, entre saltos e recrutamento obrigatório, houve quem não partisse. "As que ficaram" ficciona histórias de mobilização militar portuguesa para a Guerra Colonial, a partir do olhar das mulheres, numa voracidade entre facto e memória. Contrapondo memória (factual e construída) e o fotográfico, este levantamento de histórias cruza o colonialismo português, e as representações da distância e ausência. Através de testemunhos e arquivos privados, desenhou-se uma narrativa alegórica de parte do passado colonial, tendo Melgaço no epicentro. Patrícia Barbosa desenvolve a sua investigação a partir da fotografia, numa relação expandida com texto, objetos e som. Aprofunda-se em projetos de longa duração conectados a realidades escondidas, questionando a dicotomia entre pós-memória e evidência.
QUEM SOMOS OS QUE AQUI ESTAMOS pelo planalto
Daniel Maciel
O século XX veio disparar os portugueses para o olho da tempestade ultramoderna, seja pela mobilidade feroz dos movimentos de emigração, seja pela desmontagem e reestruturação ideológica e tecnológica que tudo contaminou. Perante este movimento, Castro Laboreiro eleva-se orgulhoso de uma altitude que esculca o resto do mundo. Não se deixou ficar. As mulheres castrejas e os homens castrejos fizeram deste salto um projeto. Os homens seguiram as linhas da emigração sem hesitação, pois se conta que sempre os castrejos saíam para fora trabalhar; as mulheres seguraram o investimento e o saber local, pois se conta que sempre as castrejas o souberam fazer. A coleção fotográfica disposta na exposição Quem Somos Os Que Aqui Estamos pelos planaltos abraça, inspirada pela versatilidade castreja, esta multiplicidade de signos e significados. É construída a partir das propostas que um grupo de castrejos selecionou de entre as fotografias que guardaram nos seus álbuns domésticos, escolhidas com o objetivo de aproximar ao espaço expositivo a riqueza e profundidade estética das vidas castrejas. É, também, uma coleção especial, por ter sido edificada em condições de especial incerteza e distância trazidas pela pandemia do Covid-19. As limitações ao contacto próximo, ao convívio regular, e à circulação entre largos grupos de pessoas, desenharam um caminho marcado por restrições e distâncias. O nascimento da exposição sublinha, por isso, também uma insistência em avançar perante os receios e seguir vivendo dentro do possível e do exequível. Castro Laboreiro é uma terra de profundidade histórica, de carácter vincado, e de chão firme. É também um mundo vivido no presente, que não vira as costas àquilo que herdou, e que ombreia o cavalgar acelerado dos tempos. A realização de uma exposição de fotografias antigas, em registo de narrativa autobiográfica, não obstante os obstáculos pandémicos que se nos têm vindo a atravessar no caminho, é apenas mais um apontamento do presente no quadro contemporâneo castrejo.
09/12 – 10 horas
Coordenação: Narjara Ferreira Mitsouka
CORTINAS DE SEDA
Manuela Vaz
Esta história é sobre uma mulher. Uma mulher nascida em 1914 numa aldeia perdida nas faldas da Serra do Marão, com uma estrada para lá chegar e a mesma para de lá sair. Uma mulher que viveu o tempo de duas Guerras Mundiais, 50 anos de ditadura fascista de Oliveira Salazar e Marcelo Caetano, e uma Guerra Colonial. Casou-se com um militar de carreira, foi vítima de violência doméstica, teve dois filhos.
Uma mulher que não acatou o destino que lhe era suposto ter: ser uma costureirinha da aldeia. Desafiou-o e foi mais além: estudou, foi empresária e professora.
Interessa-me a sua história para lá da história que ficou nos corações de quem privou com ela. Procuro também que, através dela, sejam homenageadas todas as mulheres portuguesas que, em tempo de ditadura desafiaram o destino. A sua história comporta tantas outras histórias de tantas outras mulheres.
Esta mulher é a minha mãe! É sobre ela que me encontro a desenvolver um projeto, sob a forma de livro de fotografia. Para tal recolhi fotografias de família e testemunhos de familiares, amigos e conhecidos. Investiguei sobre o tempo em que decorreu a sua vida.
10/10 – 19 horas
Coordenação: Sandra Nunes (FATEC COTIA/DIVERSITAS-USP/FAAP)
DAS ARQUITECTURAS TRADICIONAIS
Realizador Carlos Eduardo Viana
País Portugal
Produção AO NORTE
ANO 2020 DURAÇÃO 33’
Esse ano, o MDOC associou-se à comemoração dos 25 anos do Dia do Brandeiro, festa que celebra a transumância e homenageia os construtores da comunidade agropastoril da Branda da Aveleira, em Portugal. A transumância sempre empurrou para longe aqueles que subiam cada verão a montanha até às suas brandas para lá morar, cultivar, pastorear o gado. A estrada transforma isso pois o caminho torna-se mais fácil. Os últimos brandeiros ainda sobem o rebanho, mas são tão só uma memória, a da vida dura que hoje se celebra em festa a cada ano na Branda da Aveleira. O documentário Das Arquitecturas Tradicionais adentra as “arquitetura populares” reafirmando as relações intrínsecas entre as construções e os modos de vida de uma população.