Fazenda de Café – Nossa Senhora da Conceição
Jundiaí - SP
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A História da Fazenda
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As construções remanescentes desse momento inicial são: a casa grande, a tulha, e senzala. A casa grande permanece sendo a residência do proprietário da fazenda, descendente do Barão de Serra Negra; no piso inferior da casa grande foi preservada uma pequena parte da senzala reservada aos escravos que trabalhavam dentro da casa, a outra cedeu espaço para a atual biblioteca; na tulha funciona hoje o restaurante da fazenda; a antiga senzala foi o ambiente mais modificado, de tal forma, que se não fosse dito que ali já fora habitação de escravos, dificilmente se constataria tal coisa.
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A tulha continua com seus equipamentos mas não serve mais para os fins de silagem. No espaço criou-se um amplo restaurante com varanda para receber os visitantes. Há uma lojinha e um pequeno “museu”.
As habitações dos colonos estão preservadas, mas sem uso.
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História e Memória da Fazenda Nossa Senhora da Conceição
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Quando nos referimos a memória podemos pensar nas nossas lembranças registradas durante a nossa vida e nas informações conservadas, avaliando sua importância.
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A memória individual trata de lembranças que acreditamos serem exclusivas de cada um, sentimentos e recordações guardados na nossa mente, mas também são inerentes do nosso passado.
Maurice Halbwachs, em “A memória coletiva” afirma: “Quantas vezes exprimimos então, com uma convicção que parece toda pessoal, reflexão tomadas de um jornal, de um livro, ou de uma conversa. Elas correspondem tão bem a nossa maneira de ver que nos espantaríamos descobrindo qual é o autor e que não somos nós”.
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Isso não quer dizer que a memória individual não tenha importância, mas está sempre aberta às interferências do coletivo e essas servem para as pessoas adotarem ou recusarem idéias de acordo com seus propósitos no âmbito da memória. O importante é que a memória individual está sempre relacionada com a coletiva, mesmo que no âmbito individual possamos preservar lembranças que destoem daquelas que são conservadas pelo coletivo.
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A memória histórica é ligada à identidade e à conservação de vários grupos diferenciados com o interesse em manter vivo os feitos comuns de seu passado.
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Essa memória terá uma grande importância para a coletividade, porque representa a escolha de grupos que querem consolidar o passado histórico de sua classe, como podemos verificar na política vigente de preservação de documentos e monumentos e também de criação de feriados.
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Na verdade, os grupos que constroem a memória para se validar ganham o apoio das outras classes num mecanismo constante de propagação de sua importância histórica, estabelecendo uma identidade particular como se fosse a de todos, construindo um passado brilhante e heróico.
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A Fazenda Nossa Senhora da Conceição foi uma das maiores produtoras e exportadoras de café no século XIX, com suas vastas áreas de plantio, grande número de escravos e representava o poder que os cafeicultores detinham naquele período.
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Atualmente, a fazenda não tem mais essa representação de poder, o que pode ser constatado pela modificação de sua função: de uma grande produtora de café para exportação no século XIX, hoje tornou-se um pequeno empreendimento turístico.
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No entanto, devemos frisar que cabe ao historiador evidenciar as diferenças entre a memória que os cafeicultores construíram sobre si (empreendedores, progressistas, vitoriosos) e a que outros grupos possuem sobre o mesmo “período áureo” (a escravidão, a miséria dos pobres livres, etc.):
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Para Jacques Le Goff, em “História e Memória”: “A memória onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens”
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Esse conceito define bem o momento atual, pois demonstra uma dominação e expropriação da memória por um grupo social e político dominante. Se cada grupo conseguisse preservar suas respectivas histórias e lutasse por seu direito à memória poderíamos, no futuro, viver numa sociedade onde as identidades e os direitos fossem respeitados. Assim, a fazenda teria um valor maior para o estudo do século XIX se não nos deparássemos com uma memória exclusiva, mas também com a do escravo, do vendeiro, enfim das personagens que alguns desejam esquecer, mas cuja atuação foi imprescindível para todos.
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Musealização do espaço: questões do patrimônio e acervo
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O espaço dessa Fazenda de café está sofrendo interferências para se incorporar aos padrões de um Museu de História, mas devemos ter em mente o que significa ser um museu nessa especificidade para a região, quais as normas a serem adotadas para que se torne um Museu propriamente dito e principalmente pensar as questões ligadas ao patrimônio e acervo desse espaço: porque a fazenda deve ser pensada como um Museu de História e para quem está sendo construída ou interpretada essa memória.
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Maria Cristina Oliveira Bruno no texto “Quadro operatório da disciplina museológica” afirma que existem alguns pressupostos teóricos para se pensar os museus e o seu entorno. Em primeiro lugar, um museu é feito por uma sociedade, que deseja se reconhecer enquanto grupo, ter uma identidade, que é expressa através de um acervo ou patrimônio, selecionado dentro de um conjunto de objetos materiais ou imateriais.
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Portanto, a construção de um museu (de arte, história etc) nunca é neutra e o grupo o pensou estaria se valorizando no presente, através de um passado que ele mesmo construiu para si. Assim, o museu deve lidar com as referências patrimoniais, ou seja, os objetos, as coleções e os acervos, para então se estruturar como uma instituição, tendo uma área específica para salvaguarda e outra para comunicação e ambas devem agir em conjunto para socializar as informações contidas no museu.
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A construção de um patrimônio histórico se dá na procura de uma identidade, principalmente na identificação com uma nacionalidade. Para Nestor Canclini, no texto “O porvir do passado”, capítulo do livro Culturas Híbridas na América Latina, o moderno é discutido através do patrimônio que simboliza o tradicional, por isso não percebemos sua construção e damos como dado o passado que nos é fornecido através deste patrimônio.
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Na Fazenda Nossa Senhora da Conceição, o monitor nos informou que ela faz parte da Associação Paulista dos Museus e recebe a colaboração do Museu Histórico de Jundiaí. Mesmo assim, a fazenda vem sofrendo interferências que modificaram as construções antigas tais como a casa grande e a senzala e o local denominado Museu contem um conjunto de materiais esparsos, não identificados daquilo que foi possível resgatar pelo descendente do Barão de Serra Negra que herdou parte da antiga propriedade.
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A fazenda existe para a fruição do público e conta com um serviço de monitoria, que é realizado conforme um agendamento prévio à visita. Os grupos de visitantes são levados aos locais de visitação: a tulha (hoje restaurante), a capela dos imigrantes, a senzala, que hoje é o museu do café, a casa grande (hoje residência particular do dono da fazenda) e a senzala de dentro sofreram alterações profundas e o que permanece ainda no processo original é a técnica para a colheita do café, o terreiro de secagem e a lavagem dos grãos. As casas dos colonos e uma trilha feita pelos escravos também reproduzem o modo de vida anterior. Em todos os locais há objetos originais da época do plantio de café e mesmo na casa grande há objetos preservados.
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A fazenda ainda não pode ser considerada um museu, segundo as metodologias da disciplina, porém, não podemos deixar de notar a iniciativa de seus herdeiros, que estão tentando preservar sua história, ainda que de maneira amadora, independente de suas intenções.
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O patrimônio é um recurso importante para tentarmos compreender a História de uma determinada localidade, a partir de sua cultura material, lembrando que toda a representação da memória é parcial e o debate que deve ser organizado na visitação dos acervos pode permitir a recuperação do que está oculto se retomarmos as relações sociais existentes no momento das edificações hoje consideradas patrimônio.
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Possibilidades do turismo histórico na fazenda Nossa Senhora da Conceição
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O turismo histórico impulsiona atualmente a preservação de muitas cidades brasileiras como Paranapiacaba, Ouro Preto, Parati e outras, com a intenção atrair de visitantes que movimentem suas economias, gastando com souvenir e serviços. Com vistas a este tipo de empreendimento, o atual proprietário da fazenda buscou preservar objetos, documentos e edifícios do período áureo do café paulista, e, além disso, fornecer atrativos e infra estrutura aos visitantes.
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Na antiga senzala foi montada uma pequena narrativa sobre as origens e o desenvolvimento do plantio de café que ia desde sua descoberta na Etiópia, até a crise de 1929; apostando no interesse do público pela história da riqueza que o café proporcionou a São Paulo e no acervo da família do Barão de Serra. Neste local, parte das fotos e documentos (passagens, vistos internacionais e uma curiosa autorização para condução de charretes) da família estava exposta, além de ferramentas de trabalho agrícola.
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Foram construídos grandes alojamentos com a finalidade de
abrigar grupos que tenham interessem em visitar a região por mais tempo. Para tentar atrair estes visitantes seria importante desenvolver uma parceira com outros pequenos empresários e com o poder público para o desenvolvimento de um pólo turístico na região; contudo, pelo que pudemos perceber no entorno da fazenda, e pelo Museu da Ferrovia (cuja história se entrelaça com a do café) não há nenhuma iniciativa conjunta nesta perspectiva.

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O passeio monitorado pela fazenda é uma importante possibilidade cultural e didática, no entanto os próprios monitores afirmam que desconhecem as “tramas” históricas de muitos documentos que possuem, pois nenhum deles é “especialista” no ofício.
