Docentes:
Maria Angélica Souza Ribeiro
Diego dos Santos Reis
Reinaldo Miranda de Sá Teles
Renato Brunassi Santos
Início: 13 de abril de 2022
Dia da semana: quartas-feiras
Horário: 19h30 às 22h30
Modalidade: Não presencial
Plataforma: Google meet
Nº de Créditos: 08
Período de Inscrições:
Aluno Especial, UNESP e UNICAMP
01 a 07 de fevereiro de 2022
10 vagas
Mais informações: Inscrição Aluno Especial, UNESP E UNICAMP – 1º semestre 2022 | DIVERSITAS (usp.br)
Aluno Regular
Pré-matrícula: 03 a 21 de março de 2022
Sistema Janus
PROGRAMA
Objetivos
É objetivo da disciplina desenhar uma cosmologia negro-brasileira desde as noções de “terra”, “terreiro” e “território”. Voltadas para a terra, haveremos de cultivar formas de produção do conhecimento alternativas àquela ensinada pelo Ocidente e, em especial, as filiadas ao recenseamento bibliográfico e ao conjunto de contribuições irrefletidas e ignorantes da realidade fática. Tem início a primeira parte com a apresentação do modo como nascem os corpos negros no Brasil, culminando com possibilidades abertas por cadeias significantes outras que não aquela utilitária, apenas interessada no modo de funcionamento das coisas. Na segunda parte, descidas ao chão do terreiro, haveremos de recuperar uma ideia de comum/comunidade assentada nas religiões de matrizes africanas, em especial, os candomblés. Por fim, já assentadas no território, estudaremos casos em que conceitos e valores caros ao pensamento afro-ameríndio foram mobilizados para intervenções no espaço comunitário, favorecendo o diálogo entre a academia e populações tornadas vulneráveis por políticas de sacrifício.
Justificativa
O mundo ocidental, em nome de seu projeto civilizatório, difundiu um modelo de conhecimento exclusivista e excludente, pautado pela racionalidade científica, que operou a subalternização de saberes, práticas, experiências e conhecimentos extra-europeus. A razão desencarnada/desencantada, para respaldar seus ideais de objetividade, desqualificou não só o corpo como elemento primordial da/na produção do conhecimento, como pretendeu-se universal, isto é, desatrelada do local e do território, em sua lógica impessoal. A monocultura do saber/fazer eurocentrado, assim, constitui seus latifúndios ao custo da asfixia e negação de culturas invalidadas, na medida em que consideradas não-científicas, e, portanto, ilegítimas. Se, nessa lógica, o epistêmico e o epidérmico estão intrínsecos, é na medida em que a racialização dos corpos e dos territórios não passa incólume ao regime de poder que hierarquiza humanidades, geografias e culturas. Trata-se, nesse curso, em contraponto à política de sacrifício que objetiva existências negras, de estudar as cosmologias negro-brasileiras a partir das noções de “terra”, “terreiro” e “território”, com vistas a pensar não apenas o local, mas desde o local, isto é, a relação que se estabelece com o “chão” da (re)existência, os símbolos, as significações, os modos de vida e pertença.
Conteúdo
ENCONTRO 1. Acolhimento e apresentação do programa e da proposta da disciplina.
ENCONTRO 2. NASCER NEGRO: o cenário obstétrico brasileiro e o modo como são nascidos os corpos negros no Brasil.
ENCONTRO 3. VIVER NEGRO: a casa como centro do cuidado social planetário e a mulher negra como mucama permitida e arrimo de família.
ENCONTRO 4. REPRESENTAR O NEGRO: cultura e imaginário negro-brasileiros desde o modo como são representados os corpos negros X o modo como se autorrepresentam os corpos negros.
ENCONTRO 5. PSIQUISMO NEGRO: por uma clínica revolucionária. Saúde mental e questões étnico-raciais.
ENCONTRO 6. ÁFRICA NEGRA: o que nunca nos contaram sobre a África Negra: panafricanismo e mulherismo africana.
ENCONTRO 7. TERREIRO: cosmologias.
ENCONTRO 8. POESIA NEGRA: o universo poético negro-brasileiro a partir da literatura contemporânea. ENCONTRO 9. CIDADE NEGRA: espacialidades e interditos à circulação de corpos negros em perímetros metropolitanos.
ENCONTRO 10. Apresentação do pré-projeto a ser desenvolvido em grupo e que será exibido no seminário aberto ao público (II).
ENCONTRO 11. Apresentação do pré-projeto a ser desenvolvido em grupo e que será exibido no seminário aberto ao público (II).
ENCONTRO 12. Encerramento
Bibliografia
MACHADO, Vanda. Pele da cor da noite. Salvador: EDUFBA, 2017.
NASCIMENTO, Abdias. O quilombismo: documentos de uma militância pan-africanista. São Paulo: Editora Perspectiva | Rio de Janeiro: Ipeafro, 2019.
NASCIMENTO, Maria Beatriz. Beatriz Nascimento, quilombola e intelectual: possibilidade nos dias da destruição. Diáspora Africana: Editora Filhos da África, 2018.
OLIVEIRA, Rosenilton Silva de. Terreiros de candomblé como comunidades tradicionais africanas in: SILVA, OLIVEIRA & SILVA NETO (Org.) Alaiandê Xirê: desafios da cultura religiosa afro-americana no Século XXI. São Paulo: FEUSP, 2019.
SANTOS, Antonio Bispo. Modos quilombolas. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, número 09, p. 58-65, 2016.
SANTOS, Antonio Bispo. Somos da terra. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, número 12, p. 44-51, 2018.
SANTOS, Milton. O retorno do território. In: SANTOS, M.; SOUZA, M. A. A. de; SILVEIRA, M. A. (Org.) Território: globalização e fragmentação. São Paulo: Hucitec/ANPUR, 1998. p. 15-20.
SILVA, Vagner Gonçalves da. SILVA NETO. José Pedro da. Os processos de tombamento no condephaat: encaminhamentos e resoluções in SILVA, Vagner Gonçalves da. Terreiros Tombados em São Paulo: Laudos e Reflexões sobre a Patrimonialização de Bens Afro-brasileiros. 1. ed. São Paulo: Leonardo Miyahara, 2021.
SILVA NETO. José Pedro da. Caderno de Debates e Cartilha: Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana. 1. Ed. PNUD/ONU/SECOMT/SEPPIR/Ministério da Justiça e Cidadania, Brasília, 2016. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/centrais-de-conteudo/igualdade-racial/cade… consultado em 10/10/2021.
SILVA NETO. José Pedro da. Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana: visgo para combater o racismo. In Centro Sérgio Buarque de Holanda. No. 12, ano 13, maio 2019. p. 91 a 120. Link: https://revistaperseu.fpabramo.org.br/index.php/revista-perseu/article/…;
SODRÉ, Muniz. O terreiro e a cidade: a formação social negro brasileira. Rio de Janeiro: Vozes, 1988.
SOMÉ, Sobonfu. O espírito da intimidade: ensinamentos ancestrais africanos sobre maneiras de se relacionar. São Paulo: Odysseus, 2003.
Forma de avaliação
A avaliação do curso será realizada por meio de um ensaio, voltado à tematização de algum dos tópicos/questões debatidos nas aulas, em diálogo com a bibliografia estudada. O ensaio, a ser entregue ao final do curso, deve ter entre 5 e 10 páginas e a nota irá compor 100% da avaliação da disciplina