Docentes: José Carlos Sebe Bom Meihy; Marta Gouveia de Oliveira Rovai; Suzana Lopes Salgado Ribeiro
    
Início:  12/08/2021
Dia da semana: quintas-feiras
Horário: das 9h às12h
Modalidade: à distância
Nº de Créditos: 08

Período de Inscrições

Aluno Regular
Pré-matrícula: 05 a 11 de julho de 2021
Sistema Janus 

Aluno Especial, UNESP e UNICAMP
05 a 18 de julho de 2021

05 vagas

Mais informações: Inscrição Aluno Especial, Aluno UNESP E UNICAMP – 2º semestre 2021 | DIVERSITAS (usp.br)

 
PROGRAMA
 
 
Objetivos
Como parte do programa de pós-graduação e respondendo a uma demanda crescente em trabalhos atentos ao interesse dos alunos, objetiva-se desenvolver uma proposta de tópico/ tema que leve em conta a questão do “trânsito” e suas relações com a história oral. “Trânsito” em sentido amplo, considerando a circulação de alternativas formais na prática de entrevistas tidas como documentos estabelecidos ou na movimentação humana em um mundo globalizado e em constante deslocamento de massas demográficas. Faces da mesma moeda, os deslocamentos humanos e teóricos se conjugam de maneira a propor desafios enfrentados pelos quadros acadêmicos que, afinal, buscam afinidades com outras soluções e que esta disciplina pretende colocar em debate.
 
Justificativa
A estatura da história oral no Brasil, depois de superar debates sobre a própria validade e se firmar como alternativa na academia, enfrenta novos desafios. Questões de escolhas metodológicas e aberturas temáticas se combinam, propondo alargamento do alcance dos resultados. Isto, sem dúvidas, é um risco, pois implica participação de agentes que antes eram vistos em esquemas passivos, não como agentes da própria história. Sair das grades universitárias implica assumir caminhos ainda pouco desenhados na amplitude do público que gera e consome aspectos da própria experiência. A primeira questão que se levanta, pois, coloca em xeque o papel da academia e dos acadêmicos como artífices de análises sobre os outros. A mera indicação desse pressuposto sugere valorar um conceito reformador das relações entre sujeitos e objetos de pesquisas. Debelando forças desdobradas de práticas consagradas pelo arsenal de conceitos acumulados, tem-se que em vez de “informantes”, “atores sociais”, “depoentes”, “investigados”, um novo qualificativo supra a necessidade explicativa das ações contidas nas relações “colaboração”. O simples enunciado dessa possibilidade que, afinal, exalta o trabalho (labor) comum, destitui a autoridade de quem tem poder sobre a história do outro. Dois fatores relevantes se apresentam como desafio, um de ordem ética e outro de prestígio e poder institucional.
Em nível ético, o acatamento da percepção do outro (investigado) se coloca no mesmo patamar do investigador, no esforço de relativizar as disputas. Emergem desta nova relação as qualificações de mediações que mudam os polos de poder na confecção do que se chama “história viva”. Pensado em diálogos interativos, desde logo ficam comprometidos os roteiros fechados, a condução das entrevistas segundo objetivos herméticos, preestabelecidos. A quebra da hierarquia se coloca como solução interativa, dando lugar a impulsos subjetivos, fator que caracteriza os projetos de história oral além de sua factualidade. Sob uma nova ética de produção investigativa não cabe enquadramento em valores definitivos como datas, nomes corretos, “exatidão histórica”. Pela valorização do subjetivo, a memória ganha dimensões explicativas que, pelo seu enunciado dialógico, consagra o encontro de polos que se aproximam do poder.
Consequência inerente ao acatamento dos pressupostos éticos, a institucionalização dos resultados de encontros se torna condição vital para a qualificação do projeto. Fala-se, portanto, de dois tipos de manifestações de história oral: a história oral acadêmica – feita nos moldes ditos científicos – e a história oral popular que segue outro roteiro constitutivo. Por lógico, pode-se supor mediações (que, aliás, são desejáveis), mas com cuidados com melindres que relativizem hierarquias.
A soma dos cuidados éticos com os enquadramentos institucionalizadores se formula como chave para a discussão do papel da memória em suas dimensões prática, capazes de se formularem em textos analisáveis. Justifica-se, pois, a apreensão de experiências pessoais encaixadas em projetos e com a nítida preocupação de integrá-las em plataformas analíticas. É essa condição, aliás, que garante o estatuto da história oral como procedimento de estudos.
 
Conteúdo
O curso será composto por 12 sessões, ministrado por três professores, com o propósito de provocar relações entre práticas acadêmicas vistas em singularidades pouco exercitadas entre si. Memória, história oral e vivências em processos de trânsito migratório de várias condições, visa supor fragmentos em diálogo com conjuntos maiores, na dimensão almejada por uma história globalizada. Por certo, para tanto, além dos instrumentos convencionais na produção de materiais analíticos, a abertura para uso de recursos eletrônicos é somada ao fenômeno da recepção dos resultados. Novelas, documentários, exposições, constituições de acervos e museus não se furtam dos objetivos que insistem em legados materiais. O debate sobre o direito de produzir a própria história em colaboração com agentes mediadores impõe redefinições de papéis, como autoria por exemplo, e na mesma linha, sobre interesses dos envolvidos atentos à produção de seu estatuto social na transformação da sociedade que os implica. 
 O grupo temático focal “em trânsito” busca estabelecimento de textos capazes de transparecer aspectos negociáveis e resistentes para os grupos que por motivos plurais se locomovem. Tradições, traumas, valores socio-morais são postos em questão na perda de lugares e adaptação a outros espaços. Assim, o conceito de trânsito serve de sugestão também para outros trânsitos: comportamentais, corporais, identitários, formais e inclusive interdisciplinares.
 
 
Bibliografia
GUMBRECHT, Hans U. Produção da presença: o que o sentido não consegue transmitir. Rio de Janeiro: Contraponto, 2010.
HALBWACS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.
HUYSSEN, Andréas. Seduzidos pela memória: arquitetura, monumentos, mídia. Rio de Janeiro: Aeroplano Editora, 2004. MEIHY, José Carlos S. B.. Augusto e Lea: um caso de (des)amor em tempos modernos. São Paulo: Editora Contexto, 2006.
MEIHY, José Carlos S. B.. Augusto e Lea: um caso de (des)amor em tempos modernos. São Paulo: Editora Contexto, 2006.
MEIHY, José Carlos S. B.. e SEAWRIGHT, l. Memórias e Narrativas: história oral aplicada                    . São Paulo: Editora Contexto, 2020.
MEIHY, J. C. S. B e RIBEIRO, S. L. S.. Guia Prático de História Oral: para empresas, universidades, comunidades e famílias. São Paulo: Contexto, 2011, v.1. p.198.
POLLAK, Michael. Memória e identidade social. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, ano 10, 1992, pp.200-212.
________. Memória esquecimento, silêncio. In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, pp. 3-15.
PORTELLI, Alessandro. História oral e poder. Mnemosine Vol.6, nº2, p. 2-13, 2010.
RIBEIRO, S. L. S.; DE OLIVEIRA, P. R. Narrativas em rede: argumentos coletivos e histórias de vida na educação. RIDPHE_R Revista Iberoamericana do Patrimônio Histórico-Educativo, v. 4, p. 412-430, 2018. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/ridphe/article/view/9702
RIBEIRO, S. L. S.; KAMENSKY, A. P. D. S. O. “Gostaria de ouvir todas as histórias que puder. Todas” Entrevista com o Professor Dr. José Carlos Sebe Meihy. RIDPHE_R REVISTA IBEROAMERICANA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO-EDUCATIVO, v. 4, p. 220-235, 2018. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/ridphe/issue/view/394/s…
ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira. “A gente é pessoa!”: narrativas de mulheres trans sobre Direitos Humanos. Tempo e Argumento , Florianópolis, v. 12, n. 29, e0105, jan./abr. 2020.
ROVAI, Marta; MARANHÃO Fº, Eduardo Meinberg de Albuquerque. História oral testemunhal, memória oral, memória escrita. Entrevista com José Carlos Sebe Bom Meihy. In: História Agora, São Paulo, n. 9, p. 190-195, 2010.
SARLO, Beatriz. Cenas da vida pós-moderna: intelectuais, arte e vídeo-cultura na Argentina. Rio de Janeiro, Ed. UFRJ, 1997.
________. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo: Companhia das Letras, Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.
 
COMPLEMENTAR
Sobre procedimentos:
RIBEIRO, S. L. S.; CARVALHO, Maria Lucia Mendes. História Oral na Educação: memórias e identidades. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2013, v.1. p.100. Disponível em: http://www.cpscetec.com.br/memorias/historiaoral.pdf
 RIBEIRO, S. L. S.; EVANGELISTA, M. B.; ROVAI, M. G. O. Audiovisual e história oral: utilização de novas tecnologias em busca de uma história pública. Oralidades (USP), v.1, p.89 - 105, 2011. Disponível em: http://cursos.ufabc.edu.br/digitalplural/rede-neho/revista-oralidades/
RIBEIRO, S. L. S. Visões e perspectivas: documento em história oral. ORALIDADES (USP), n.2-Jul-Dez/2007, p.35 - 44, 2007. Disponível em: https://cursos.ufabc.edu.br/digitalplural/wp-content/uploads/2018/08/Or…
 
Sobre temáticas e trabalhos desenvolvidos:
RIBEIRO, S. L. S.; ROVAI, M. G. O.; GAMA, V. P. F. Narrativas orais de professoras: saberes caiçaras numa comunidade de Ubatuba-SP. HISTÓRIA ORAL, v. 22, p. 340-358, 2019. ISSN: 2358-1654. Disponível em: http://revista.historiaoral.org.br/index.php?journal=rho&page=article&o…
RIBEIRO, S. L. S. Educação e formação: bandeiras de luta para um movimento social. Trabalho & Educação (UFMG). v.21, p.207-217, 2012. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/trabedu/article/view/9084
ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira. Aprendendo a ouvir: a história oral testemunhal contra a indiferença. Revista Brasileira de História Oral, v.16, n.12, p.129-148, jul-dez 2013.

Forma de avaliação
O aluno será avaliado por sua participação oral nas aulas que serão prioritariamente remotas e deverá apresentar semanalmente relatórios sobre as leituras e discussão e, ao final, avaliar o efeito de uma entrevista no projeto de pós-graduação.
Assim, sua nota será composta por:
- Realização de relatórios de leitura a serem entregues semanalmente: 30% da nota total
- Elaboração de texto composto de entrevista e reflexão contextual: 60% da nota total
- Participação das discussões e atividades em aula: 10% da nota total