Teses e Dissertações do Grupo de Pesquisa Linguística e Intolerância

Juliana Ribeiro Brandão

Tratando de representações sociais relacionadas à experiência de acesso à justiça junto a assistidos pela Defensoria na área cível, o estudo se volta à reflexão dos significados produzidos nesse acesso. A coleta de dados de base qualitativa foi orientada pela teoria das representações sociais e pela técnica da análise de conteúdo. Conjugando a pesquisa empírica com pressupostos teóricos radicados, sobretudo nos direitos humanos e na teoria do reconhecimento, propõe-se a investigar em que medida a Defensoria é percebida como uma instituição que proporciona o acesso à justiça.

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Kátia Cristina Kenez

Nesse trabalho, aborda-se a maneira como os libertários brasileiros, por meio de sua postura internacionalista, criticaram o patriotismo e desprezaram o nacionalismo no contexto da Primeira Guerra Mundial, contrariando o caráter nacional de uma elite, colocando-os em termos inconciliáveis com a ideologia da classe dominante, num momento de busca de hegemonia e formação da idéia de nação. O anarquista foi representação do nocivo, sofrendo a repressão policial e jurídica, em prol da segurança nacional, durante e após os anos da Guerra. Assim, a repressão que, inibia principalmente uma ação operária de caráter revolucionário, traduziu-se por uma ação autodefensiva das forças repressoras. O anarquista tornou-se um inimigo social na lógica do poder constituído na Primeira República, quando se privilegiava a polícia civil pela manutenção da ordem social e moral, sem que fossem concretizadas políticas de justiça social, optando-se pela repressão a seus grupos e prisão e expulsão de seus militantes ou simpatizantes, inibindo a ação revolucionária. O movimento operário, neste contexto dos anos de 1917 e 1919, nos permite o entendimento de que a responsabilidade da exploração do trabalho, no período analisado, foi diluída com a concepção de que o operariado carecia de leis protecionistas. Discute-se como a ignorância sanitária nos remete a compreensão da diluição dos apelos deste operariado, que foram destituídos de um potencial reivindicatório. Aos trabalhadores é imputado   uma incapacidade crítica e consciente de articulação de suas próprias demandas, passando a serem cunhados pela grande imprensa como massa de manobra dos apelos anarquistas

 


 

Kimiye Tommasino

Este trabalho reconstitui a historia dos kaingang da bacia do rio tibagi da metade do século passado, ate os dias atuais. Esta historia permite detectar as estratégias, formas e conteúdos das relações estabelecidas entre as sociedades indígenas e os colonizadores, numa continua afirmação de seu modo de ser. O resgate da historicidade/etnicidade kaingang permite uma outra compreensão da sociedade paranaense e a real natureza do processo de colonização ocorrida neste século, colonização essa feita invariavelmente sobre territórios indígenas. A matéria prima para a reconstituição foram os documentos de missionários, diretores e viajantes, documentos do SPI, FUNAI e outras instituições, da bibliografia cientifica sobre essa sociedade Jê meridional, depoimentos dos kaingang mais velhos e de nossa pesquisa de campo.

 


 

Lídice Meyer Pinto Ribeiro

O presente trabalho é o resultado da pesquisa de campo e posterior análise do sistema religioso encontrado num bairro rural presbiteriano, localizado num vale do Município de Maria da Fé, no sul de Minas Gerais: São João da Cristina.Tendo o presbiterianismo chegado ao vale desde 1895, quando ainda não havia um bairro propriamente formado, mas apenas algumas fazendas, a Igreja Presbiteriana tornou-se um dos elementos primordiais da conformação física, histórica e social do bairro em formação, dando a este, características marcantes e diferenciadoras dos demais bairros rurais e católicos da mesma região. Com base nos pressupostos de autores clássicos que ingressaram nos caminhos dos sistemas classificatórios e do pensamento mágico e de pesquisadores modernos que re-interpretaram estes teóricos, contextualizando-os ao sistema de campesinato brasileiro, estudou-se os sistemas classificatórios com relação às plantas, os animais, astros celestes, espaços físicos e sociais, e o mundo religioso e sobrenatural, relacionando-os com a vida diária do camponês protestante, demonstrando como o pensamento religioso dos moradores de São João da Cristina extrapola os limites da igreja para se permear em todo o seu meio circundante. Buscou-se desta forma, estabelecer as relações entre o sistema classificatório mágico-religioso encontrado na sociedade caipira com o sistema religioso oficial urbano, procurando decodificar o sistema religioso existente no ambiente rural de São João da Cristina, desvendando o real sentido de suas práticas e crenças religiosas, fornecendo subsídios para futuros estudos acerca do protestantismo rural em outras localidades do Brasil.

 


 

Lucia Cavalieri

Esta pesquisa tem por objetivo entender como ocorre o processo contraditório da reprodução social das comunidades rurais à luz de uma análise das práticas cotidianas e das estratégias de reprodução social da família do migrante, cortador de cana do Vale do Jequitinhonha. Os homens migrantes vivem ora mais próximos da condição camponesa, ora sorvidos como proletários na cana. Não se realizam plenamente em nenhuma das duas condições. No território da cana estão proletários; no território camponês não têm mais terras para o trabalho e a família não conta com os homens em suas práticas cotidianas. Esses camponeses-migrantes encontram-se na margem. A pesquisa de campo se realizou em duas comunidades rurais: Alfredo Graça e Engenheiro Schnoor localizadas no município de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha. Estas comunidades têm algumas características comuns: a migração dos homens para o corte de cana em São Paulo e uma série de custos imputados à família, em especial às suas mulheres. Nosso interesse consiste em entender como esse sujeito, na condição de camponês-migrante, perdura no tempo e quais são as fissuras que essa condição provoca em sua família e em seu território.

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Luís Fernando de Matheus e Silva

A Serra Gaúcha, localizada na região nordeste do Rio Grande do Sul, desde o início do século XX, é tida como a maior e mais conceituada área produtora de uva e de vinhos do Brasil, mais especificamente os municípios de colonização italiana antiga como Antonio Prado, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Garibaldi, Flores da Cunha e Monte Belo do Sul. Nos últimos trinta anos, uma série de mudanças afetou o mercado de vinhos, tornando-o mais competitivo e internacionalizado, levando as empresas aí instaladas a valorizar aspectos de sua produção que as diferenciassem e mantivessem sua posição de destaque no mercado nacional. Acompanhando uma tendência verificada em escala mundial, foram valorizados aspectos naturais ou aqueles que dizem respeito à cultura e/ou à tradição de origem italiana, característicos da região. Essa valorização do local e de suas particularidades, promovida num contexto de globalização neoliberal do capitalismo, contribuiu para que a área produtora de uva e de vinhos da Serra Gaúcha fosse fetichizada, o que resultou numa maior importância do turismo, que, neste momento e naquele lugar, passou a exercer um papel-chave, azeitando as engrenagens e ajudando no bom funcionamento do motor do capital. Vinícolas, poder público, camponeses, etc. passaram a enxergar no turismo, uma possibilidade de ampliar seus lucros ou rendimentos. Dessa forma, à partir do legado cultural transmitido pela imigração italiana, ao lado dos parreirais, vinícolas, fábricas e pequenas propriedades camponesas, o espaço agrário da área de produção vitivinícola da Serra Gaúcha recebeu a instalação de diversos roteiros turísticos, hotéis, pousadas, restaurantes e demais estruturas ou serviços voltados aos visitantes, transformando o caráter original daquele lugar - que passa a articular-se com os centros urbanos não somente como fornecedor de gêneros agrícolas, mas, agora também, como destinação turística.

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Luiz Felipe Falcão

Este trabalho pretende interpretar historicamente um fenômeno sócio-cultural contemporâneo ocorrido no Estado de Santa Catarina e em todo o sul do Brasil, que foi a emergência não apenas de um movimento separatista organizado, mas sobretudo de um amplo sentimento em favor da criação de um novo país reunindo os três estados sulistas (Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina) entre diversas parcelas da população. Tomando por base Santa Catarina, que foi onde o autor teve contato direto com esta situação, e também onde o separatismo revelou-se mais estruturado, o estudo busca desenvolver uma espécie de escavação de caráter histórico nas visões de mundo partilhadas por expressivos segmentos de seus habitantes a fim de localizar algumas das principais matrizes que têm informado uma evidente sensação de desconforto ou mal-estar presente nestas populações no que se refere a uma efetiva incorporação ao Estado brasileiro e mesmo a uma idéia de Brasil Nação. Para isto, a referência temporal adotada foi o correr deste último século, onde as propostas e ações visando a constituição de uma nacionalidade brasileira esbarraram em preocupações não inteiramente coincidentes, sejam as elaboradas por imigrantes europeus e seus descendentes que tinham a aspiração de preservar uma identidade de feição étnica, sejam as construídas por indivíduos ou grupos animados por um regionalismo que absorvia desconfianças e ressentimentos quanto ao Estado brasileiro e ao restante do  país. Visando então compreender o separatismo numa dimensão histórica e cultural, o que muitas vezes escapou àqueles que o analisaram tendo em mira apenas o discurso de suas lideranças mais conhecidas (onde, com certeza, salta à vista o simplismo de muitas das suas formulações ou os preconceitos que as nutrem), optou-se por focalizar as circunstâncias que em Santa Catarina parecem mais ilustrativas das fricções e enferrujamento quanto ao processo de integração na sociedade brasileira, tal como este foi pensado e perseguido por intelectuais e dirigentes políticos situados nos principais centros de decisão do país ou por aqueles que, atuando na própria região sul, com eles comungavam das mesmas idéias. Assim, foram pesquisados e discutidos o chamado "perigo alemão" no início deste século, o integralismo, o nazismo e a campanha da nacionalização durante os anos trinta e quarenta: o tradicionalismo gaúcho nas últimas décadas, e por fim o movimento separatista "O Sul é o meu País" organizado mais recentemente. Abordando através de inúmeras fontes estes momentos e estas manifestações por vezes muito separadas no tempo e muito distintas em seu conteúdo, as reflexões aqui contidas não pretendem sugerir a existência de um generalizado sentimento separatista de longa duração na região do sul do Brasil ou, em particular, no Estado de Santa Catarina, mas sim debater como noções originalmente diversas podem intercambiar sentidos,  resignificando-os ou ser colonizadas de maneira a ganharem um significado novo, Para além disto, porém, pode-se dizer ainda que a maior ambição deste trabalho é problematizar os resultados por vezes surpreendentes e contraditórios da imposição de um modelo de nacionalidade que se esmerou em recusar as diferenças, fossem elas culturais, políticas, ou quaisquer outras baseadas em opiniões argumentativas publicamente sociais asseguradas por um tal modelo de nação.

 


 

Maria Cláudia Badan Ribeiro

A pesquisa teve como objetivo recuperar as redes de solidariedade formadas por mulheres que mantiveram ou não vínculos orgânicos com a ALN (Ação Libertadora Nacional) e que prestaram os mais diversos tipos de colaboração a essa organização, participando não apenas dos levantamentos para ações armadas ou diretamente de sua execução, mas desempenhando também um papel primordial na retaguarda do movimento armado. A colaboração dessas mulheres foi parte também das transformações que se processaram na sociedade da época com relação à participação da mulher no espaço público. Na militância política, elas também introduziram mudanças na divisão de papéis entre os sexos, e ressignificaram sua participação no interior dos grupos nos quais se incorporaram. Sua atividade foi fundamental para garantir a vida de pessoas bem como permitir a continuação das atividades da organização no Brasil, em especial nos momento mais repressivos da ditadura. Muito além de pequenos gestos, como se supõe, essas mulheres formaram uma força discreta, que deu aos militantes clandestinos a estabilidade necessária para continuarem a na luta.

 


 

Maria Del Carmen Tubio Pereira

Este trabalho analisa a greve dos cortadores de cana de Guariba, em maio de 1984 e a repressão que foi deflagrada contra eles pela PM de São Paulo. Esta greve comoveu a opinião pública a nível nacional por diversos motivos. Estes trabalhadores eram bóias-frias, sem tradição de organização política e sindical no interior paulista a diferença dos cortadores de cana de Pernambuco que organizavam fortes greves desde 1979 e por isso ocupavam as manchetes dos jornais. A greve foi rápida, muito radicalizada, totalmente contrária à normatização imposta pela Lei de Greve, e amplamente vitoriosa, estimulando greves e ações também radicalizadas, de milhares de bóias-frias por todo o interior paulista, Goiás e Paraná. Os cortadores de cana de Guariba conquistaram o Contrato Coletivo de Trabalho motivo pelo qual esta mobilização foi um marco na história dos assalariados rurais. Além disso, a violenta repressão policial aconteceu sob o governo de um dos maiores impulsionadores da campanha das "Diretas Já" - Franco Montoro do PMDB - que tinha finalizado no mês anterior e que havia exigido fartamente o fim da ditadura militar, de sua política econômica, de seus métodos autoritários e da exploração e violenta repressão a que submetia os trabalhadores em nível nacional. Este momento da transição democrática no Brasil, depois de quase vinte anos de regime militar, foi repleto de contradições e empurrou os diversos atores sociais e políticos a explorar os novos espaços -institucionais   ou não - que se abriram para a construção de realidade brasileira capaz de viabilizar seus projetos sociais.

 


 

Maria Elena Miranda

Este trabalho aborda os aspectos jurídicos e políticos dos programas de assentamentos rurais no Brasil a partir do estudo de um assentamento na cidade de Promissão-SP. A pesquisa etnográfica aponta para as dificuldades dos assentados para se ajustarem às exigências da legislação da reforma agrária. Muitas vezes, eles adotam práticas mais flexíveis, porém, contrárias àquela legislação. Entretanto, não se pode afirmar que haja no assentamento de Promissão um direito costumeiro impondo suas próprias regras. Pode-se dizer, no entanto, que os assentados acionam algumas práticas costumeiras, incorporadas pelo habitus camponês, para a solução dos seus problemas e de suas demandas. Algumas estratégias adotadas no assentamento de Promissão já desenham uma tendência de como eles estão resolvendo as questões de herança, de inadimplência e de preservação de seu status de camponeses livres. Assim sendo, o arrendamento das terras e o assalariamento, práticas recorrentes em épocas pouco propícias à produção agrícola, são formas de obter os meios de subsistência da família e, ao mesmo tempo, conservar a terra sob o domínio da mesma. Por outro lado, a compra de lotes no assentamento destinadas aos filhos de assentados, não selecionados pelo INCRA, nos dá um indicador de como as famílias estão solucionando o problema da herança. Todas essas práticas têm correspondência em outras áreas de campesinato mais antigo, mas nos assentamentos rurais elas constituem infrações à legislação da reforma agrária, colocando os assentados na condição de "irregulares"