Teses e Dissertações do Grupo de Pesquisa Linguística e Intolerância

Davi Félix Schreiner

Este estudo trata das experiências contemporâneas de trabalhadores rurais em movimentos de resistência organizada, no Sudoeste e Oeste do Paraná, na faixa de fronteira do Brasil com o Paraguai e a Argentina, entre 1985 e 2001. Analisar as experiências de organização da vida cotidiana nos assentamentos rurais constitui o objetivo central. A investigação centrou-se nas contradições evidenciadas nos processos de organização das diferentes formas cooperativas e ou associativas e de como foram vividas pelos assentados, no fazer-se das experiências da vida cotidiana. Para a pesquisa optou-se pela escolha do Assentamento Vitória, localizado no município de Lindoeste, com 152 famílias assentadas, pelo Assentamento Terra Livre, localizado no município de Nova Laranjeiras, com 30 famílias assentadas, ambos vinculados ao MST, e pelo reassentamentos rurais dos expropriados da Usina Hidrelétrica de Salto Caxias, em vários municípios da região Oeste, com 612 famílias, vinculadas à Crabi/MAB. Na medida em que os assentamentos não constituem espaços sociais isolados, sua organização interna e formas de solidariedade e cooperação foram analisadas, de um lado, a partir do exame dos nexos entre as transformações da estrutura agrária no espaço regional, a articulação da resistência dos sem-terra e o surgimento dos assentamentos rurais, suas formas de organização da terra e do trabalho, no espaço regional em foco. E, de outro lado, como mediações produzidas nas relações sociais e como processos que integram a dinâmica de movimentos sociais, foram investigadas na relação com o fazer-se da luta pela terra a partir das múltiplas representações que os próprios assentados elaboram como memória de suas trajetórias de vida. Neste contexto, os assentamentos configuram ambiências: espaços sociais e de produção material da vida onde afloram pluralidade e heterogeneidade permeadas pelas relações de poder, por teias de contradições e de conflitos em torno de hábitos, valores e tradições. Neles evidenciam-se tanto as contradições de classe como as inerentes à formação da categoria social de assentados. Uma das principais materializa-se na possibilidade de os assentados retecerem o modo de vida de colono e a práxis em torno de um novo projeto de organização social da produção e de vida comunitária dos seus mediadores. As propostas de cooperação, sobretudo as formas coletivas da terra e do trabalho, são vistas pela maioria dos assentados como um limite à realização da liberdade e autonomia. O estudo mostra que, no esforço de implantar a cooperação nos assentamentos, a concepção dualista do MST, do coletivismo versus individualismo, levou à discriminação dos assentados “individuais” e revelou-se redutora da pluralidade de experiências de cooperação vivenciadas. A coletivização é estranha à sua cultura e constitui-se numa forma redutora do seu modo de vida e utopias. Tal desencontro evidencia a necessidade de valorizar a cultura dos assentados e de considerar suas tradições e valores na formulação de uma política de cooperação na luta. Revela também que é preciso superar práticas autoritárias e de subordinação política na relação entre mediadores e assentados, como uma das condições para uma nova qualidade de vida individual e coletiva, alicerçada nas diferentes formas de reciprocidade horizontal, na democracia e na cooperação.

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Edivaneide Barbosa da Silva

A presente pesquisa refere-se ao processo de escolarização de crianças e jovens do assentamento Pirituba II, localizado nos municípios de Itapeva e Itaberá, região sudoeste paulista. Trata-se de um Projeto de Assentamento Rural (PA) que está sob a responsabilidade da Fundação Itesp, sendo resultado das ocupações de terras realizadas por famílias camponesas nos anos de 1980, as quais se organizaram em entidades sindicais, pastorais e no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST.) A educação básica tornou-se uma realidade no lugar, devido às lutas por direitos, organizadas, sobretudo, pelo MST. Desde as primeiras ocupações na Fazenda Pirituba, as famílias desenvolveram lutas pelo acesso à cultura letrada para as novas gerações do assentamento. No total são cinco escolas públicas que atendem os filhos dos camponeses assentados. Adentramos nessas escolas para analisar a natureza do projeto político-pedagógico das mesmas, com a pretensão de verificar se ocorreram práticas dialógicas entre educadores, educandos e famílias que participam do MST. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de observação/participante. Tais procedimentos metodológicos, alinhados aos referenciais teóricos deste trabalho, possibilitaram-nos apresentar reflexões acerca dos encontros e desencontros entre a ação políticopedagógica de educadores e assentados. Palavras Chaves: Educação Escolar/ Assentamento Rural/ MST./Projetos pedagógicos/ Educação Libertadora.

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Eduardo Castro

O objetivo deste trabalho é analisar como se realizam os processos de espacialização e de territorialização das famílias assentadas na Fazenda Ipanema, localizada no município de Iperó-SP. Para alcançar tal objetivo, elegemos o trabalho como categoria central de nosso estudo. Trata-se de uma categoria fundamental na análise marxista e que está intimamente ligada com a vida, em sentido amplo, para as populações camponesas. A partir da descrição e análise das formas diversas de trabalho encontradas entre as famílias assentadas, realizadas seja no campo ou na cidade, avançamos no entendimento de como o espaço do lote e do assentamento é apropriado e construído pelos assentados, constituindo um território camponês em construção. A partir da luta pela terra e por manter-se nesta, trabalhando e vivendo com suas famílias, culminando no processo de territorialização, esse sujeito histórico, social e político se constitui como classe no contexto da formação social brasileira. Faz-se classe na medida em que se identifica com uma luta mais ampla, pela reforma agrária e por condições de vida e de trabalho dignas no meio rural. O caso estudado se insere no contexto da discussão sobre a reforma agrária e do papel do campesinato na sociedade moderna, bem como de sua luta pelo reconhecimento do Estado, via políticas públicas, da sua importância em nossa sociedade.

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Élio Garcia Duarte

Este trabalho tem por objetivo o estudo dos movimentos no campo, ocorridos em Goiás, nos últimos vinte anos. Destaca o processo de ocupação de propriedades improdutivas como forma de pressão junto ao governo, para que sejam desenvolvidas políticas visando a agilização da reforma agrária. Procura ressaltar a importância dos elementos culturais dos camponeses na organização da luta pela terra. Baseado no método regressivo-progressivo, proposto por Henri Lefebvre, o estudo parte da constatação da realidade atual no campo, frente ao avanço do capitalismo, e procura buscar a gênese dos conflitos em Goiás, fazendo um retrospecto dos movimentos ocorridos desde os anos 50. Depois, volta ao presente, analisando os movimentos mais recentes, cuja direção parte dos próprios trabalhadores com o apoio de entidades mediadoras. A análise desta luta é verticalizada através do estudo da situação e da história de três projetos de reforma agrária, entre os vários já realizados em Goiás

 


 

Francisco Paulo Bucieri Júnior

O trabalho analisa o livro modernista de Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil. Coteja-se-o com os artigos de juventude, em pesquisa genética. Depois, procura-se explicitar o que o ensaio já continha do plano da obra do historiador maduro, interessado na trama diária, seja no campo material ou no das idéias, seja em Caminhos & Fronteiras ou em Visão do Paraíso. O objetivo foi o de, pelo menos, recuperar certas categorias de explicação para o objeto a que Sérgio viria a dar historiografia rigorosa: a vaidade, a vergonha, o desterro - enquanto historiador do Brasil.Em suma, a dissertação versa sobre o contexto cultural, político e econômico dos anos 20 e 30; segue uma linha cronológica na primeira parte, "A crônica de sucessos", retratando os anos de 1920 a 1937. A segunda parte, "Brasil", "História de", aproxima textos de outros autores que estudaram a especificidade do sistema brasileiro em relação aos padrões do progresso material, que era um tema modernista e se estendeu à política e à economia, ganhando a opinião pública, as massas, ao tempo do Imperialismo norte-americano. Comentando a afirmação "somos ainda hoje uns desterrados em nossa época", a pergunta mais geral é: brasileiros, até quando sereis escravos da vossa própria história

 


 

Helio Braga da Silveira Filho

A educação cada vez mais precisa de práticas voltadas para a formação de alunos conscientes e comprometidos com sua realidade histórica, a fim de que venham se capacitar a responder as demandas político-sociais. Sintonizada com esta perspectiva, esta pesquisa apresenta uma análise sobre a experiência de um grupo de professoras do Ensino Fundamental da rede pública a partir de seu trabalho docente com o tema da história local, que tem justamente o objetivo de procurar assegurar o tipo de educação apontado acima. Ao longo de seu desenvolvimento sustenta a posição de que para que se possa construir uma educação com este contorno é necessário trabalhar com a noção de escola democrática, sem o que será impossível estabelecer qualquer prática educativa voltada para a direção do aluno e de seu contexto histórico. Em seguida, constrói um entendimento dos conceitos de História e de história local, pois sua compreensão é imprescindível para se alcançar um eficiente resultado dessa proposta educacional. Apresenta, ainda, o contexto político-educacional do município de Osasco, por ser o local em que a prática das professoras aqui estudada se realiza. Por fim, descreve o quanto as experiências de vida de professores marcam a construção de sua prática docente, possibilitando o estabelecimento das condições de sustentação de seu trabalho, como no caso aqui estudado, aquele voltado à história local. A fim de atender aos seus objetivos, este estudo recorreu, enquanto recursos metodológicos, à leitura de variada fonte bibliográfica, tendo como principal referência o pensamento de Paulo Freire, assim como ao depoimento das professoras por meio de um questionário e de uma entrevista, como instrumentos de levantamento de dados.

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Janaína de Almeida Teles

O processo de reconstituição factual e de reflexão crítica acerca da ditadura civil-militar de 1964 e de seu legado permanece incompleto e permeado por zonas de silêncio e interdições. Decorridos pouco mais de trinta anos da Lei de Anistia, muitos acontecimentos permanecem descnhecidos ao tempo em que se observa a existência de importantes lacunas na articulação entre o legado da ditadura e a memória daqueles que a ela se opuseram ativamente. Visando contribuir para o entendimento desse passado, e de seu legado, esta pesquisa procurou caracterizar o protagonismo dos presos políticos na defesa de tranformações sociais e na luta contra a ditadura e, ao mesmo tempo, oferecer um panorama reflexivo sobre a construção de suas memórias a respeito dessas lutas e da experiência-limite da tortura e da prisão. Para alcançar esse objetivos, a pesquisa pautou-se por um amplo registro ds memórias desses protagonistas por meio da metodologia da História Oral de Vida  um conjunto de 90 entrevistas com ex-presos políticos. O que permitiu a coleta de informações até aqui inéditas no que diz respeito à organização dos presos e à atuação dos órgãos repressivos. A execução e desenvolvimento dessa metodologia deram origem a reflexões teóricas que visaram interpretar o material coletado, contextualizando-o crítica e historicamente. Partiu-se, ainda, da premissa de que tais testemunhos, juntamente com os de advogados, familiares e militantes permitiriam aprofundar as pesquisas desenvolvidas sobre as lutas revolucionárias e de resistência; a clandestinidade; as formas institucionais da repressão política e as disputas políticas estabelecidas dentro e fora dos cárceres. Os depoimentos dos ex-presos permitiram, ainda, a análise de suas estratégias de sobrevivência e memória. Tais estratégias foram aqui discutidas à luz dos esforços empreendidos para a compreensão da maneira como eles próprios reorganizaram identidades, constituíram grupos de ação política e definirarm maneiras de se relacionar com o legado das experiências-limite. Reconstruir as tramas dessa história, com o suporte do material coletado, apresenta novas possibilidades de interpretação desse período recente da história brasileira cuja atualidade permanece.

 


 

Janaína de Almeida Teles

Essa pesquisa baseia-se nos depoimentos orais das famílias de mortos e desaparecidos políticos e trata dos cruzamentos entre a esfera pública e privada na política brasileira a partir dos anos de 1970. Procura-se nesse trabalho recuperar como a ação política desses novos personagens ao buscar legitimar a expressão pública da dor e realizar o luto tem enfrentado diversos limites decorrentes dos caminhos percorridos pela transição à democracia no Brasil. Destaca-se, através de seus testemunhos, o importante papel que a luta dessas famílias assumiu na luta contra a ditadura e no processo de democratização do país. Os familiares, ao protagonizarem a luta por verdade e justiça, se tornaram os portadores da memória das violações dos direitos humanos do período da ditadura, mas a interdição do passado não lhes permitiu concluir seu luto.

 


 

José Eduardo Montechi Valladares de Oliveira

No período pós-Segunda Guerra Mundial, o PCB adotou como discurso um vigoroso apelo à democracia. Caminho semelhante foi adotado por todas as outras forças políticas, inclusive a extrema-direita. Isso criou um paradoxo, em um país cuja história política é marcada pela prática do autoritarismo e onde a democracia tinha pouca, ou nenhuma, tradição. O caso do PCB, especificamente, merece ser estudado por uma série de fatores: a) como um partido assumidamente stalinista poderia sustentar um discurso democrático; b) como o discurso democrático se articulava com a estratégia de tomada do poder de um partido que dez anos antes havia sido o principal articulador de um pustch; c) o estranho paradoxo representado pelos sucessivos ataques das forças conservadores ao PCB, em nome da democracia, apesar da obsessão comunista em propagar sua devoção democrática; d) a contemporaneidade dessa discussão, já que os partidos políticos majoritários falam, sem exceção, em defesa da democracia, mas as camadas populares continuam sendo mantidas afastadas dos centros decisórios.

 


 

José Roberto Severino

As pesquisas que permitiram esta tese foram concentradas no mapeamento dos investimentos de instauração de identidade italiana, na identificação de marcadores identitários em narrativas acerca de imigração e por fim nas ações efetivas nos locais considerados núcleos de descendentes por parte dos investidores europeus em Brusque, Nova Trento, Rodeio e Rio dos Cedros, todos em Santa Catarina, numa região de colonização italiana. O conjunto dos capítulos é entrecortado pela constante luta pela afirmação das identidades, pelos impasses na reivindicação cultural da italianidade por grupos ligados à igreja católica, de sua negação e afirmação pelo Estado (brasileiro e italiano, trentino) e nas relações com os grupos circunvizinhos (brasileiros, alemães, colonos, etc). Como primeiro capítulo analiso o encontro do Trentino e a instituição da italianidade em sua configuração diaspórica. Percorro o período das comemorações do Centenário da imigração italiana e trentina para Santa Catarina para entender o que promoveu a produção de novos sentidos, o estabelecimento de contatos, a organização de entidades, a religação de trajetórias familiares interrompidas pela imigração, enfim, o estabelecimento de uma nova pauta nas vidas de pessoas que passaram a valorizar elementos que regionalmente não tinham sentido além da manutenção dos estreitos laços familiares. Uma das possibilidades de explicação vai pela via da ação italiana. A presença da Itália é limitada no Brasil (no   sentido de uma presença eficaz), além do que o governo italiano mal reconhece a emigração até os anos 1970. A igreja apontava uma Itália vaga, no sentido de Roma como sede do cristianismo além do que atuavam na região )diversas ordens religiosas não italianas (alemãs, lusas) que aparecem de forma significativa na vida das pessoas nas colônias, mas que de maneira geral se mantêm fiéis ao pertencimento nacional brasileiro. Como segundo capítulo analiso o hibridismo cultural e a italianidade difusa na região a partir do registro fotográfico dos desfiles na parada do Centenário. Nelas analiso não tanto os aspectos técnicos da fotografia, mas antes as alegorias que se produziram e reproduziram nos desfiles e na historiografia. A mitificação da memória nas alegorias é a entrada para a usinagem de cada compartimento deste texto, escolhidas entre tantas outras a partir do critério de recorrência na bibliografia, para tentar entendê-las, sabendo que foram marcantes na vida daqueles imigrantes e dos grupos sociais em suas interações. Como arenas sociais mais explícitas escolhi as alegorias da escola e da capela; enquanto que no âmbito das relações interétnicas, dos constrangimentos e práticas disciplinares, a alegoria do casamento; e para discutir mais detidamente identidade e diferença, selecionei a alegoria da cachaça e do vinho. O último capítulo está pautado no movimento de reinvenção da italianidade e nas ações dirigidas aos descendentes de imigrantes na   região. Analiso os investimentos que produzem a amálgama identitária, como nas ações dos circoli de cultura italiana. Promotores de noções de "resgate cultural", disponibilizaram a apropriação de um determinado capital simbólico, que alimenta sonhos numa espécie de romance da imigração, construindo narrativas que indicam o caminho de volta através da dupla cidadania italiana. Além dos círculos e associações há ainda a questão religiosa sempre presente nos discursos que demonstram uma população católica e ações sobre o local reforçados com o processo de canonização de Madre Paulina.