Endereços da cidadania: o caso Herzog

Autor
Mário Sergio Moraes
Ano
2005
Resumo / Abstract

Esta tese refere-se ao assassinato do jornalista Vladimir Herzog, no dia 25 de outubro de 1975, em dependências do DOI-CODI (Destacamento de Operações Internas - Centro de Operações de Defesa Interna), do II Exército, em São Paulo. Naquela época, a ditadura militar alegou que o prisioneiro político havia se "suicidado", ao delatar seus companheiros. Entre tantas torturas e "desaparecimentos" de oposicionistas políticos, a tragédia motivou a reação da sociedade civil contra os desmandos dos ditadores. Estes foram obrigados a recuar com a demissão do comandante do II Exército, general Ednardo D'Ávilla Melo, depois da morte do metalúrgico Manoel Fiel Filho, em janeiro de 1976. O estudo reconstitui a trajetória de duas redes sociais que se mobilizaram na metade dos anos 1970 e que tiveram importância no Caso Herzog: a da periferia da cidade de São Paulo, lutando por melhores condições de vida na educação, saúde, moradia, emprego, transportes, entre outros problemas. E, principalmente, da classe média intelectualizada, que se mobilizou como força política na crítica contra a ilegalidade do regime. A importância do Caso Herzog foi múltipla. Foi a primeira vez que ocorreu uma mobilização social, depois das manifestações estudantis de 1968 contra a ditadura militar. Costurou um discurso unificado entre vários setores da sociedade, desde os liberais até os da luta armada, em torno dos Direitos Humanos. Fez reaparecer o conceito de cidadania, após ter sido suprimido pelo vocabulário autoritário. Assim, o dia 25 de outubro se tornou a data principal pela reflexão dos Direitos Humanos no Brasil. A novidade da tese está em dar voz aos protagonistas da mobilização social, ao contrário da historiografia tradicional, que salientou apenas que o crime foi causado pelo choque entre os setores "castelistas" versus a "linha dura", dentro do contexto da abertura política. Deslocando o eixo da contradição para fora do Estado autoritário, o autor revela que o embate contra a ditadura foi tecido pelas redes democráticas, articuladas pela Igreja e pelo discurso de "frente democrática". Assim, ficam evidenciadas outras contradições deixadas de lado pelo discurso oficial, a saber: dos ditadores (seja o governo ou de seus insubordinados ligados à tortura) versus os da sociedade civil; do discurso da abertura versus dos Direitos Humanos; do discurso liberal de diversos grupos oposicionistas versus os setores da classe média intelectualizada na busca de uma saída mais socializante. E, principalmente, do capital versus o mundo do trabalho. O Caso Herzog, dessa maneira, foi o catalisador de movimentos sociais e representou o estopim de diversas facetas da sociedade brasileira que, ainda hoje, não foram resolvidas, como o problema da tortura em prisioneiros comuns.

 


 

Área do Conhecimento
História