Tradicionalmente, o pensamento de Calvino foi estudado sob dois prismas: o olhar do historiador, que procura, a partir dos fatos ocorridos na vida de Calvino, uma melhor compreensão do período turbulento da Reforma Protestante do século XVI, e a ótica do teólogo que, seja ele sistemático ou exegético, fará uso dos textos clássicos do reformador francês para a defesa e/ou compreensão da fé cristã. Nesta dissertação, o perfil político do trabalho de Calvino é tomado em consideração. Ao analisar a idéia de vida política no pensamento de João Calvino é necessário renunciar aos temas defendidos pela teologia. Renunciar, ou ao menos mudar a ênfase tradicional assumida pela teologia. A idéia de liberdade tem um papel importante no pensamento da Reforma. O conceito de liberdade foi o agente responsável por muitas mudanças, seja na esfera de uma nova situação política ou simplesmente na esfera eclesiástica. Pensar na Reforma como uma iniciativa programada e ajustada por seus ativistas ou simplesmente tomá-la como uma conseqüência dos tempos de mudança da Renascença no século XVI, fará com que situemos com exatidão o papel da idéia de liberdade em seus inspiradores e idealizadores. Mas qual é o objetivo que setem em vista? O papel do indivíduo na formação do Estado segundo o pensamento de João Calvino é o tema aqui proposto. Será necessário desenvolver qual é o "status" deste indivíduo calvinista, quais são as possibilidades e limites de sua ação e se este   indivíduo será livre ou a quais formas de subserviência deverá obedecer. É evidente que, se por um lado a Reforma libera o cidadão de uma obediência cega às leis da igreja para o exercício da cidadania, é razoável supor que também existia um limite de obediência sem o qual o Estado Reformado não teria as garantias mínimas para o seu estabelecimento. Se o indivíduo reformado não deve obedecer à igreja é necessário que ele se submeta a um código de disciplina para que o ) Estado dos Estados da Reforma possa se mostrar melhor do que seus predecessores. O que se segue obedecerá a seguinte ordem: primeiramente, uma análise do conceito de liberdade no pensamento da Reforma Protestante do século XVI. Após descrever o perfil do indivíduo reformado a partir da gênese de liberdade, nós analisamos sua atividade política, sua participação na construção do Estado, o direito de resistir à autoridade constituída, desde que por esta resistência se tenha em vista a constituição do Estado Cristão. Neste aspecto, a obra de Calvino que serve como texto básico é a Instituição da Religião Cristã. A razão, a lei natural e a moral serão os temas que ocuparão a segunda parte da dissertação. A idéia de um Estado puramente cristão ocupará a parte final. Calvino discute as formas de governo e dentre elas qual parece ser a mais apropriada para uma nova concepção política do homem moderno no Estado Protestante. O papel dos magistrados como ofício "quase divino" e a função popular serão os temas diferenciais nesta última fase do trabalho.