Cosmopolitismo, Ecologia e Políticas do Sensível

 

COSMOPOLITISMO, ECOLOGIA E AS POLÍTICAS DO SENSÍVEL

Dia 28/03/2019

14h30 – 18h30

 

 

PROGRAMAÇÃO

14h30 – Abertura: 

Luanda Francine (Diversitas/USP) e Dirk Michael Hennrich (FCT/CFUL)

 

14h45 – 16h15:

Christian Dunker (USP) – Cosmopolitismo ou Kleinopolitismo?

Camila Moreno (UFRRJ) – Capitalismo na teia da vida: provocações para pensar uma ecologia política do sensível em tempos de ciber-natureza.

 

16h15 – 16h45: Coffee-Break

 

16h45 – 18h15:

Luiz Marques (UNICAMP) – A cadeia alimentar corporativa, perturbações endócrinas e colapso socioambiental.

Vladimir Safatle (USP) –  Natureza como sujeito: por uma emancipação das coisas.

 

18h15 – 18h30 – Encerramento: 

Dirk Michael Hennrich (FCT/CFUL)

 

 

RESUMOS /PALESTRANTES

Christian Dunker (USP) – Cosmopolitismo ou Kleinopolitismo?

Vamos abordar as relações entre o desastre ecológico causado pela construção da barragem da usina hidroelétrica de Belo Monte, Pará, Brasil em sua consequência em termos de sofrimento psíquico. Apresentaremos uma reflexão baseada na intervenção clínica realizada por uma equipe de psicanalistas, coordenada por nós, no contexto da clínica do cuidado e da concepção de patologias do social, desenvolvida pelo Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da USP.

Christian Dunker é psicanalista, professor do Departamento de psicologia Clínica do IPUSP. Autor de diversos ensaios e livros, dentre os quais o ganhador do prêmio jabuti 2012, “Estrutura e Constituição da Clínica Psicanalítica (Annablume, 2011) e “Mal-estar, sofrimento e sintoma” (Boitempo, 2015).

 

Camila Moreno (UFRRJ) – Capitalismo na teia da vida: provocações para pensar uma ecologia política do sensível em tempos de ciber-natureza.

A questão ambiental é significada hoje como uma dimensão incontornável para a continuidade da vida na Terra e sua incorporação pela tradição de pensamento crítico e reflexão dialética é um desafio prático e político decisivo. Partindo da perspectiva de que o capitalismo pode ser pensado, também, como uma forma de organizar a natureza, podemos entender que este historicamente se constituiu não apenas como um Sistema-mundo, mas sobretudo como uma ecologia-mundo. Assim entendido, suas relações sociais estão inextrincavelmente imbricadas na produção da teia da vida, da submissão e alienação de forças produtivas e espécies para a conformação de corpos, ecossistemas e paisagens. Neste sentido, e diante das transformações em curso no bojo da 4ta revolução industrial – e do nosso acesso ao sensível crescentemente mediado pela transformação digital em escala planetária – que novas questões se colocam? Como o sensível é capturado e alienado sob a forma do capital natural? Como emergem e se legitimam os mercados globais de serviços ambientais? Qual o horizonte de emancipação diante de uma ciber-natureza submetida a um futuro de biologia sintética e ferramentas de edição genética?

Camila Moreno é doutora em Sociologia (UFRRJ), autora de “Brasil made in China: para pensar as reconfigurações do capitalismo contemporâneo” (Fundação Rosa Luxemburgo, 2015) e “A métrica do carbono: abstrações globais e epistemicídio ecológico” (Heinrich Böll Foundation, 2016). Sua principal área de estudo e produção tem sido as interfaces entre as políticas de clima e a ecologização do capitalismo. 

 

Luiz Marques (UNICAMP) – A cadeia alimentar corporativa, perturbações endócrinas e colapso socioambiental.

As sociedades humanas intervieram crescentemente em seu meio ambiente desde o advento da agricultura no fito de submetê-lo às suas estratégias de potenciação de energia, produção e consumo. Mas essa intervenção pré-histórica e histórica até o século XIX não tem medida comum com o grau de interferência antrópica no sistema Terra típica do Antropoceno (após 1950). Revela-se aqui um limite de adaptação do habitat ao homem, além do qual a interação entre humanos e a biosfera em geral deixa de ser reciprocamente adaptativa para se tornar reciprocamente destrutiva. A comunicação explora como essa dinâmica de destruição recíproca exprime-se de modo mais agudo na cadeia alimentar corporativa global, inclusive com interferências, ainda não bem conhecidas em toda a sua extensão, no equilíbrio endócrino dos organismos.

Luiz Marques é professor do Departamento de História da IFCH-Unicamp. Publicou diversos livros e ensaios sobre a Tradição Clássica e, mais recentemente, também sobre a crescente degradação antropogênica das ecossistemas, entre os quais o livro “Capitalismo e Colapso Ambiental” (editora Unicamp, 3ª edição revista e ampliada, 2018).

 

Vladimir Safatle (USP) – Natureza como sujeito: por uma emancipação das coisas.

Trata-se de questionar o paradigma de emancipação centrado na autonomia subjetiva, isto a fim de insistir em certa emancipação das coisas cuja figura privilegiada passa por uma relação de inapropriação em relação à natureza.

Vladimir Safatle é professor do Departamento de Filosofia da USP e professor convidado da Universidade de Paris VII, Paris VIII, Toulouse, Louvain e Stellenboch. Autor de vários artigos e livros, dentre os quais “Cinismo e falência da crítica” (Boitempo, 2008) e “O circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo e o fim do indivíduo” (Autêntica, 2016).

 

 

DESCRIÇÃO

O Colóquio Cosmopolitismo, Ecologia e as Políticas do Sensível, organizado pelo projeto Cosmopolitanism. Justice, Democracy and Citizenship without borders (CFUL/FCT Portugal) em parceria com o grupo de pesquisa sobre Ética e Direitos dos Animais (Diversitas/USP), parte do pressuposto de que no atual e futuro estado global, as questões e exigências ecológicas representam o âmago de todas as possíveis projeções para uma vida multiforme e abundante na Terra. Nesse sentido, é fundamental que possamos pensar o Cosmopolitismo não restrito apenas à espécie humana, mas também a todos os seres vivos que fazem parte da ordem intrínseca da esfera planetária. A Ecologia, por sua vez, não se resolve na sustentabilidade de uma política vigente, direcionada apenas a dar continuidade aos interesses progressivos do sistema econômico capitalista, baseado na exploração contínua e exponencial do natural. Tampouco é uma mera ciência que se resume na assessoria da economia e da política antropocêntrica, com toda a sua armação tecnológica e científica, para fins de sobrevivência no panorama catastrófico dos ecossistemas. Em vez disso, a Ecologia seria necessariamente a realização e expressão das Políticas do Sensível, sendo o sensível aqui compreendido como tudo que não é apropriável, que não é objetivável nem dissecável, mas que representa, sobretudo para si mesmo, em sua integridade inapropriável, a vida.

As Políticas do Sensível abrangem o corpo-vivo, a língua e a paisagem (conceitos do inapropriável no pensamento de Giorgio Agamben) e num sentido mais amplo, a possibilidade e a necessidade de afetividade, ressonância (como trabalha, por exemplo, Hartmut Rosa), disposição (como na Filosofia da Paisagem de Georg Simmel) e responsabilidade po-ética num tempo anestético e apático diante das degradações do viver e das formas de vida na Terra. A proposta de criar uma Política do Sensível estaria desse modo, em consonância com a sustentação da sensibilidade e afetividade diante das mais diversas línguas, isto é, expressões específicas e inapropriáveis das múltiplas formas de vida, para possibilitar uma autêntica cosmo-política não-antropocêntrica, capaz de furar também políticas embrutecidas e violentas presentes entre os seres humanos. Escutar e responder as diferentes línguas parece ser uma das virtudes essenciais do Cosmopolitismo e, para tanto, será preciso incluir na grande conversa planetária, aquelas línguas que não tem voz na lógica predominante das políticas vigentes.

Diante da problemática exposta, como pensar um Cosmopolitismo não-antropocêntrico para além do sistema econômico do capitalismo? Quais serão suas possíveis expressões das Políticas do Sensível? Como incluir os excluídos e reconhecê-los como agentes nas Políticas do Sensível? Perante o atual cenário nacional e internacional, urge discutir o tema aqui proposto em vista da realidade política e social no Brasil. 

 

https://cosmopolites.wixsite.com/cosmopolitanism

http://diversitas.fflch.usp.br/etica_e_direitos_dos_animais