Encontros e Memórias: a inserção dos nikkeis na USP e na sociedade brasileira (exposição) ( 24/10/2008 a 31/01/2009 )

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imagemDeslocar-se de um lugar ao outro supõe sempre uma decisão que envolve muitos sacrifícios, quase sempre desconsiderados pela memória que precisa reconstruir sentidos e significados para um novo vivido. Perdas na maioria das vezes irrecuperáveis, deslocamentos, estranhamentos e saudades que aos poucos vão sendo acomodadas nos compartimentos da cultura material e imaterial daqueles que rememoram. Fragmentos em objetos, imagens, pequenas narrativas antropofagicamente deglutidas em acomodações produzidas por simbioses de cheiros, gostos e ritos incorporados em espaços desconhecidos.

A chegada dos imigrantes japoneses em São Paulo não foi diferente. Daqueles descendentes que compõem o conjunto de professores da Universidade de São Paulo é possível encontrar desde os que vieram no Kassatu Maru em 1908 até os últimos chegados já nos idos da década de 1960, no século XX.

Ser imigrante é viver no exílio, uma fratura incurável entre um ser humano e um lugar natal, entre o eu e o seu verdadeiro lar: sua tristeza essencial jamais pode ser superada. Essa condição presente no imaginário dos que imigraram aparece exatamente invertida nos descendentes, que se utilizam das experiências dos que partiram para compor um novo sentido ao vivido, que se apresenta diversificado e de outra racionalidade no sentido da acomodação ao novo campo cultural. O novo espaço exótico, em um primeiro momento, vai garantindo ganhos capazes de compensar as perdas, especialmente quando os imigrantes são crianças. Muitos rememoram as dádivas da natureza: praias, frutas, grandes espaços como conquistas importantes.

Outros relembram silêncios, introspecções, gestos comedidos, leveza no andar, discrição no falar e respeito às hierarquias e aos papéis de cada um nas origens, e seus estranhamentos frente aos costumes dos locais de chegada.imagem2

Viver duas culturas supõe escolhas, mas também um certo modo de unir o antes e o depois.

Muitos relatos atestaram um ponto em comum. Os que chegaram puderam se integrar sem muita dor, pois foram inseridos numa cultura caipira em São Paulo. Caipira conforme definiu Antonio Candido em Parceiros do Rio Bonito. Fala arrastada, convívio com os vizinhos, solidariedades simples, trocas culturais. Fizeram muito esforço para manter a língua e os costumes, organizando escolas, trocando ritos religiosos, festando com os seus. Mas, ao mesmo tempo, inseriram novos nomes, integraram-se em escolas públicas, aderiram ao rito religioso dominante e tornaram-se camaradas nas colônias agrícolas da cafeicultura e até mesmo criaram colônias próprias.

Poucos se integraram em casamentos mistos, mas os que o fizeram consideram que juntar é bom, mas o melhor é misturar...

Para esse grupo, a inserção na Universidade foi um ganho e um compromisso com os que imigraram. Desvendar o mundo da ciência, construir redes, inventar máquinas e procedimentos, alterar a genética de plantas, legumes e flores, criar estruturas, escrever obras literárias, estudar o teatro, a música e pintar são contribuições importantes no fazer universitário que qualificou esses imigrantes e seus descendentes. Também cuidar, curar e educar são partes significativas da inserção desse grupo discreto e eficaz na vida universitária. Acompanhar esse percurso é um prazer incomensurável...

 

CONTEÚDOS:

 

Vídeo "Juntar é bom, mas o melhor é misturar!"

Vídeo que aborda a história dos docentes nikkeis da Universidade de São Paulo, com o objetivo de rememorar a imigração japonesa no Brasil, as diferentes origens sociais do grupo de imigrantes e as várias formas de produção de saberes e seu sentido para a sociedade brasileira: divulgação científica.

- Partes: 1,  2 e 3

 

 

Painéis da exposição

Clique aqui para visualizar os painéis expostos no Centro de Preservação Cultural da Universidade de São Paulo (CPC-USP) de 24/10/2008 a 37/01/2009.

 

 

Artigo

Clique aqui para acessar o artigo "Encontros e memórias: a inserção dos nikkeis na Universidade de São Paulo e na sociedade brasileira", de autoria de Zilda Márcia Grícoli Iokoi, que reúne entrevistas com professores da USP realizadas por Ana Lúcia Casanova, Júlio Toledo e Zilda Márcia Grícoli Iokoi.