A escola, a diversidade de saberes e a cultura da paz

Darlinda Moreira

 

Os processos etnográficos de investigação e a reflexão teórica e crítica têm-se unido para evidenciar como ao sucesso da escola, como lugar de promoção do saber letrado e da cidadania é necessário o saber cultural do grupo social, o qual se afasta ou revê na escolaridade, na medida em que é trabalhado em contexto escolar contribuindo para construir exemplos positivos de um bem para todos e de todos. Com efeito, no contexto global multicultural onde coexistem várias dimensões culturais que se materializam em vários tipos de dinâmicas sociais, a diversidade, proveniente de vários contextos sociais e culturais, expressa-se na escola e na sala de aula de formas variadas, através da língua, dos comportamentos, dos hábitos, das formas de valorizar o conhecimento e a própria escolaridade, bem como nos recursos que cada um tem ao seu dispor para viabilizar e dar sentido às aprendizagens escolares. Além disso, as diversas histórias de vida dos estudantes estão imersas em memórias, afectos e saberes diversos evidenciando que a relação com o saber e as formas de aprender se processam de formas distintas, fundamentadas como estão em epistemologias culturais próprias.

Neste sentido, a função educativa escolar é olhada como uma forma de conectar e transferir discursos e práticas entre diferentes grupos sociais, sendo necessário ter em atenção que os diferentes saberes estão embutidos em contextos próprios, que implicam a presença de processos cognitivos, de formas de pensar, de ensinar e de transmitir os saberes às novas gerações, originando ainda aplicações, objectos, problemas, objectivos, tecnologias e profissões particulares. Assim, o objectivo principal desta comunicação é reflectir na forma como a diversidade dos saberes culturais ao ser mobilizado e incluído nos contextos escolares contribui para uma cultura de paz, permitindo simultaneamente evidenciar o potencial da multicultura para a implementação de processos reais de participação na vida social.

Começamos por abordar a ideia de que a apropriação de conhecimento está relacionada com oportunidades de participação cívica, para posteriormente explorar a questão de como o reconhecimento da diversidade de saberes e das formas de aprender nomeadamente, por parte das escolas, é uma das componentes de uma educação para a tolerância e para a paz que se reflecte no futuro em oportunidades de organização social mais justas, em cooperação e tolerância face às diferenças. Mostraremos como é necessário ir para alem de noções universalistas e essencialistas sobre o conhecimento escolar e construir uma ideia mais fluida, descentrada e baseada na experiência quotidiana do conhecimento, abrindo as portas à riqueza dos conhecimentos dos vários grupos sociais.

 

* Darlinda Moreira é licenciada em Matemática pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, mestre em Bilingual Education Studies, pela University of Massachusetts at Boston e doutora em Antropologia Social pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). Presentemente é professora no Departamento de Educação e Ensino a Distância da Universidade Aberta onde tem leccionado várias disciplinas de licenciatura e pós-graduação. Entre os seus temas de investigação destacam-se a etnomatemática, a educação matemática em salas de aula multiculturais e a formação de professores. Tem publicado em revistas da especialidade e participado em conferências nacionais e internacionais na área da especialidade.