
Mercado Municipal de São Paulo
Vila dos Ingleses
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Introdução
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Este relatório tem por objetivo compreender a problemática do Centro Velho de São Paulo (região da Luz, Brás e arredores da Rua 25 de Março). Partiremos dos casos particulares do Memorial do Imigrante, do Mercado Municipal e da Vila dos Ingleses, destacando aspectos de sua história e a preservação da memória, para então, analisarmos de forma conjunta questões da musealização do patrimônio e potencial turístico da região, tendo em mente as construções teóricas de Nestor Garía Canclini “O porvir do passado”, na obra Culturas Híbridas na América Latina.
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Memorial do Imigrante
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Mercado Municipal
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Hoje, com o Mercado restaurado, as elites voltam ao centro nos fins de semana, mas não percebem (ou não querem) a miséria em que se encontram os moradores da região, em seus cortiços, prédios invadidos e mesmo nas ruas no entorno do Mercadão (como é conhecido popularmente).
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Vila dos Ingleses
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Hoje, a Vila dos Ingleses está preservada nas fachadas de sua arquitetura e abriga instalações comerciais no interior das edificações. Houve mudanças no interior das residências, para abrigar tal destinação, mas o patrimônio histórico proíbe mudanças nas configurações da Vila.

Construída com mão-de-obra, materiais e no estilo inglês, assim como todas as estações da linha ferroviária, fato melhor observado na Estação da Luz, que seria a estação-sede da capital de São Paulo. A Vila dos Ingleses está hoje preservada, mas não conhecida da população da cidade. Localizada na Rua Mauá, paralela à linha do trem, não é tão facilmente percebida por quem transita na região, além do mais, a região da Luz recebe um intenso comércio e as pessoas não param para ver os prédios históricos que os cercam, como a Pinacoteca do Estado, a Estação Júlio Prestes, o Museu de Arte Sacra e a própria Estação da Luz. O patrimônio já se tornou parte do cotidiano e é tratado sem diferenciação do conjunto arquitetônico da cidade.
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O centro histórico de São Paulo: questões do patrimônio e do potencial turístico
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Tendo como base o Memorial do Imigrante, o Mercado Municipal e a Vila dos Ingleses, para se pensar as questões das edificações históricas do centro de São Paulo, percebemos diversas soluções para a preservação do patrimônio. Os três casos analisados tiveram uma destinação diferente da proposta original de sua construção: o que era uma hospedaria dos imigrantes e migrantes, hoje se propõe como um museu que trata dessa temática; o Mercado Municipal continua com sua função, mas a população tem outra relação com o espaço; por fim, a Vila dos Ingleses tornou-se abrigo para estabelecimentos comerciais e não mais residências. Os casos aqui abordados tiveram como solução a restauração, mas nem sempre é isso que ocorre com as edificações históricas do Centro. Vemos muitos prédios em ruínas ou com a arquitetura adaptada (mistura do original com diversas adaptações realizadas ao longo dos anos), ou simplesmente a derrubada dos prédios históricos, para a construção de edifícios mais “modernos” e funcionais, que atendem uma lógica imobiliária e especulativa.
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Esse pensarmos sob esse prisma, nos perguntamos qual a função da preservação dos edifícios históricos para a memória da sociedade paulistana. Para quem se destina e o porquê de tal empreitada. Temos que ter em mente que o patrimônio histórico é sempre uma construção do presente, acerca de uma memória que ele mesmo constrói para si. É a procura de uma identidade, principalmente de uma nacionalidade, que faz a construção do patrimônio histórico. A discussão do presente só é possível através de um contraponto do passado, essa relação nunca é neutra.

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No caso do Memorial do Imigrante, o patrimônio se dá na forma de Museu Histórico, com acervo e suas implicações: comunicação e reserva técnica. A história a ser contada por esse museu é devidamente selecionada ante a outras possibilidades. Enquanto hospedaria abrigava primeiro os imigrantes e depois os migrantes, em sua maioria, principalmente os nordestinos – há documentação de todo o período, mas para exposição museográfica, optou-se por valorizar a história dos imigrantes do ciclo do café, só há referência à migração nordestina nas escadarias do museu, em painéis fotográficos. O museu também tem uma forte área de pesquisa, que está disposta ao público em terminais de consulta sobre a possível chegada de ascendentes. A memória coletiva aqui valorizada é a de uma constituição imigrante da cidade de São Paulo, principalmente de italianos, a memória nordestina é deixada de lado, até mesmo pelas pesquisas.
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O Mercadão e a Vila dos Ingleses não tiveram como destino o Museu, o primeiro tem ainda sua função original e a segunda foi readaptada. O que nos chama a atenção nesses casos é a relação entre o patrimônio histórico e seu entorno. O patrimônio é preservado, mas não tem nenhuma relação com a comunidade que o cerca, ele está aí para atender um público que não é do local, um público sazonal ou mesmo de turistas. Daí, mais uma vez, temos que questionar o patrimônio e sua construção: de quem e para quem. A região central está abandonada pelos que estão no poder, a população desta região vive em condições precárias e com poucas perspectivas de melhora, o centro é uma área destinada ao comércio popular, mas há também muitas residências e partes dominadas pelo tráfico (as denominadas cracolândia e boca do lixo). O projeto de revitalização do centro inclui a restauração de prédios históricos, mas não visa o diálogo com a comunidade, que não freqüenta ou não utiliza tal patrimônio, por não se sentir incluída. . A história contada não é a deles, mas a de um outro grupo, que visita o centro nos fins de semana e depois voltam para sua região de origem. Não se conta a história dos vencidos, não vemos os nordestinos, os trabalhadores do mercado e os operários ingleses nos locais visitados. O patrimônio preservado não faz parte da vida da comunidade, só faz parte do seu local de passagem.