Docentes: Diego dos Santos Reis; Giselle Gubernikoff; Mônica Guimarães Teixeira do Amaral
    
Início: 10 de agosto de 2021
Dia da semana: terças-feiras
Horário: 19h30 às 22h30
Modalidade: à distância – plataforma Google Meet
Nº de Créditos: 08

 

Período de Inscrições

Aluno Regular
Pré-matrícula: 05 a 11 de julho de 2021
Sistema Janus 

Aluno Especial, UNESP e UNICAMP
05 a 18 de julho de 2021
15 vagas
Mais informações: Inscrição Aluno Especial, Aluno UNESP E UNICAMP – 2º semestre 2021 | DIVERSITAS (usp.br)

 
PROGRAMA
 
Objetivos
O predomínio da tecnoimagem anunciada por Vilém Flusser na era pós-histórica e o choc póstumo propiciado pela fotografia e o cinema (Benjamin, 1936) – e hoje pelos videoclipes – podem conduzir tanto a um estado de irreflexão quanto à reposição objetivadora de uma experiência em declínio (Adorno, 1967). O cerne desta discussão envolve a possibilidade de se jogar com e contra o aparelho, por meio da técnica de produção da imagem cinematográfica, envolvendo a decupagem e a montagem, cenas do presente e do passado (imagens de arquivo), mudanças de foco, a ironia, o jogo lúdico, a identificação e a sedução. O objetivo do curso é refletir sobre algumas produções significativas do videoclipe e do cinema, com ênfase na estética da montagem como estratégia de formação/implicação subjetiva do público. Uma atenção especial será dada à teoria feminista do cinema, às estéticas decoloniais e seus arquivos, com vistas a problematizar a estereotipização das representações femininas e a sub-representação da população negra na produção cinematográfica. E, por fim, analisar como estas questões são enfrentadas pela produção de videoclipes de rappers brasileiros e estrangeiros, bem como no videoativismo de cineastas negras.

Justificativa
O debate sobre a estética da imagem envolvida na produção cinematográfica encontra-se cada vez mais associado à linguagem digital no mundo contemporâneo, conferindo outra configuração às tecnoimagens enunciadas por Flusser, além de propiciar uma nova dimensão às estéticas afro-feministas e ao debate decolonial. Daí a importância de se propor um curso que aponte para a genealogia da imagem cinematográfica e suas intersecções com a teoria feminista do cinema e, na atualidade, com as estéticas feministas e o debate decolonial.

Conteúdo
Vilém Flusser (1985) anuncia a falência da escrita que se agudiza com o surgimento e predomínio da tecnoimagem na era pós-histórica, cujos processos de desumanização e de irreflexão podem ser enfrentados por meio da estética do jogo e do improviso, que nos faz lembrar o jogo lúdico da lembrança e do esquecimento, tão caros a Benjamin (1939) e a Freud (1914) e, mais contemporaneamente, aos rappers. A ideia é explorar a genealogia da estética da montagem cinematográfica desde o seu surgimento com Griffith e com a vanguarda russa, além do efeito Kuleichov e da montagem dialética, núcleo em que se forma o cineasta russo Sergei Eisenstein e que dá origem ao cinema como arte. Trata-se, igualmente, de abordar a teoria feminista no cinema, que aprofunda a discussão entre as representações no cinema e criação de estereótipos, e a linguagem digital dos clipes, em que as imagens de arquivo tornam-se fundamentais para fomentar o debate decolonial. O curso propõe, desse modo, uma análise da imagem cinematográfica e dos efeitos estéticos da técnica da montagem, baseado no debate da teoria crítica benjaminiana da fotografia e do cinema, da teoria feminista e da decolonialidade.


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Forma de Avaliação: 
Trabalho a ser entregue no final do curso.