As metamorfoses da sedição: religião e política em Hobbes

Autor
Everson Machado
Ano
1999
Resumo / Abstract

O tema da religião adquiriu uma importância cada vez maior nos livros de Hobbes, a ponto de dar o nome e ocupar metade de seu livro mais famoso, o Leviatã. No entanto, em sua classificação das ciências, Hobbes exclui todos os temas da religião. A questão então é saber como um autor que tem um discurso inflexível sobre a ordem das razões trata de um assunto que, de antemão, foge ao saber filosófico. Hobbes apresenta duas versões de seus princípios de hermenêutica. Em ambas as versões, o resultado político é o mesmo: a última palavra sobre as Escrituras deve ser do soberano. No entanto, as conseqüências históricas são bastante diversas. A primeira versão encontra-se no De Cive, de feição humanista, enfatiza o aspecto histórico-literal do texto e não desconsidera a tradição. A segunda, a do Leviatã, assemelha-se ao modelo protestante de leitura interna e por analogia, mas também pode ser assimilada ao discurso filosófico dedutivo. A leitura humanista termina por interditar a interpretação das Escrituras como algo superior às possibilidades de conhecimento humano, sendo apenas possível confiar em uma autoridade cujo fundamento não seja humano, a saber, a igreja anglicana. A leitura filosófico-protestante é desenvolvida em circunstâncias históricas diferentes - em que a igreja não pode mais ser o fundamento da autoridade das Escrituras - e tem conseqüências diversas, resultando em uma leitura radical, contra a igreja visível. Contudo, as duas   interpretações - a humanista, historicizante, e a leitura filosófica, lógica complementam-se e apontam para um outro sentido de compreensão da história

 


 

Área do Conhecimento
Filosofia