Comemorar o que? A violação dos corpos, a máquina da tortura e a destruição dos direitos e da Democracia?

 

 

Comemorar o que? A violação dos corpos, a máquina da tortura


e a destruição dos direitos e da Democracia?

 

29 de março de 2019

Por Victor Leonardo Araujo (UFF/RJ)

 

Vamos comemorar a hiperinflação deixada de legado pela ditadura militar: 46% em 1976; 38% em 1977; 41% em 1978; 77% em 1979. É pouco? Então vamos em frente: 110% em 1980; 210% em 1983; 223% em 1984!

Também podemos comemorar o salário mínimo: equivalia, em poder de compra atual, a R$ 1.232 em março de 1964; caiu para R$ 710 em janeiro de 1967; para R$ 682 em abril de 1969; para R$ 661 em abril de 1974; e R$ 563 em março de 1983.

Também podemos comemorar a dívida externa, que era de US$ 3,6 bilhões em 1964 e atingiu US$ 93 bilhões em 1984. Devemos comemorar a crise da dívida externa, herança da ditadura militar e que nos logrou uma longa crise econômica.

Podemos comemorar a taxa de analfabetismo entre pessoas de 10 e 14 anos de idade, que em 1983 era de espantosos 19%.

Podemos comemorar a piora das condições de vida durante a ditadura, expressa, por exemplo, na esperança de vida ao nascer, que era de 55,5 em 1960 e cai para espantosos 51 em 1970, retomando ao patamar de 55 em 1980.

Temos muito o que comemorar. No sentido estrito da palavra, comemorar significa lembrar, memorar, só que em conjunto, porque não podemos jamais esquecer o legado de crise econômica e social deixada pela ditadura militar.