DISCIPLINA: HDL5033 – Necropolítica e Desigualdades em Tempos de Pandemia

Docentes: Francione Oliveira Carvalho, Venceslau Alves de Souza, Zilda Márcia Grícoli Iokoi                     

Início: 26 de março de 2021

Dia da semana: sextas-feiras

Horário: 14h00 às 18h00

Modalidade: à distância

Nº de Créditos: 08

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PROGRAMA

Objetivos

Um dos objetivo da disciplina é esmiuçar os conceitos de necropolítica, racismo estrutural, racialismo e luta de classes atrelando-os à realidade vivida pelas populações não-brancas trabalhadores do Brasil, realizando revisão da literatura concernente a temática, promovendo debates, fomentando discussões, problematizando e contextualizando o conceito sobre os temas derivados dessa circunstancia, identificando processos necropolíticos em comum, refletindo sobre estas interações e sugerindo saídas para o problema. Procuraremos diagnosticar como a necropolítica pode ser problematizada com maior exatidão, por meio de análise dialética. Também, e como objetivo específico, a questão da necropolítica, caracterizando-a como uma política de Estado realizada historicamente pelo capital periférico brasileiro, atrelando-a à lógica do capital global, como forma particular de controle da questão social que se revelou com a pandemia de COVID-19, mas que não se restringe a ela.

 

Justificativa

O credenciamento da disciplina se justifica na medida em que se propõe desenvolver uma série de leituras e discussões com recorte historiográfico, assentado numa análise materialista e dialética, com vistas a verificar a relação histórica do Estado brasileiro com a necropolítica contra as populações racializadas (não brancas e pobres), como ocorreu no caso do contexto da pandemia de COVID19.

Procuraremos verificar se essa decisão política se fez como uma solução meramente conjuntural, de uma política genocida ocasional, ou de uma política estrutural do capital periférico para a questão social, que eventualmente dá forma ao Estado brasileiro.  Para tal, realizaremos uma série de encontros de releituras e literatura que tratam da questão da necropolítica, procurando caracteriza-la como uma lógica sistemática, classista e deliberada do capital, com vistas a garantir a acumulação, sob a argumentação de que se trata de uma das várias formas de reprodução do capital, acentuada e levada agora às últimas consequências, em prejuízo do bem-estar social, mas que é prática histórica deste Estado contra as populações pobres não-brancas.

Na primeira destas fases, utilizaremos, como base inicial, parâmetro de comparação a não-efetivação das políticas sociais inclusivas, garantidoras de subsídios estatais suficientes para o exercício pleno da cidadania, com acesso a serviços essenciais à vida moderna, nos marcos da Constituição de 1988, que reconhece a assistência como política pública, e da Política Única de Assistência, de 2005, que ampliou este entendimento.

 

Conteúdo

- Conexões entre a objetivação das desigualdades sociais e a objetivação e a subjetivação do racismo;

- A estrutura da sociedade, que determina os limites e possibilidades do bem viver das populações não-brancas;

- O racismo naturalizado e reproduzido pela sociedade e pelas instituições que a compõem;

- Transformações institucionais versus transformações estruturais;

- Miscigenação dos espaços de poder e reestruturação das instituições;

- O Estado e a reprodução das condições para que o racismo e as desigualdades sociais se manifestem;

- Imagens de controle que são traçadas para fazer com que o racismo, o sexismo, a pobreza e outras formas de injustiça social pareçam naturais, normais e inevitáveis na vida cotidiana;

- Reconhecimento das pedagogias afrocentradas como propulsoras de uma educação democrática e antirracista;

- A meritocracia;

- O racialismo;

- As desigualdades na reprodução do capital e estudos de casos a partir da teoria marxista.

 

Bibliografia

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HAIVEN, Max - Revenge Capitalism: The Ghosts of Empire, the Demons of Capital, and the Settling of Unpayable Debts. Pluto Press. 2020.

KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: Episódios de Racismo Cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

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NETTO, José Paulo (Marcelo Braz, org.). Ensaios de um marxista sem repouso – uma face contemporânea da barbárie. Cortez. São Paulo. 2017.

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SCHWARCZ, Lilia M. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930. São Paulo: Cia. das Letras, 1993