Teses e Dissertações do Grupo de Pesquisa Linguística e Intolerância

Cátia Pereira dos Santos

A urbanização é um processo que atinge grande parte do território brasileiro e que assume feições distintas conforme as especificidades de cada lugar. Estudar tais feições é uma forma de se compreender um pouco mais a dinâmica desse processo tão complexo e heterogêneo.Itaperuna, situada no interior do estado do Rio de Janeiro, é uma cidade que se formou com base na expansão da cafeicultura. Por cerca de cinco décadas, a economia do município de Itaperuna esteve baseada nessa atividade. Situação que vai começar a se alterar com as repercussões da crise econômica mundial de 1929 na economia local.A partir daí, outras atividades, também ligadas ao campo, como a rizicultura e a pecuária leiteira, foram se desenvolvendo, enquanto a cafeicultura ia perdendo importância.Em meio às mudanças que vão ocorrendo no campo, a cidade vai se constituindo e se transformando, enquanto avança o processo de urbanização.Assim, este trabalho analisa as feições assumidas pelo urbano numa cidade com forte influência do meio rural. Nesse exercício, o bairro, sendo um espaço onde se desenvolvem relações imediatas diretas, apresenta-se como um nível de análise fundamental para a compreensão do urbano que lá se formou. O bairro reproduz numa escala menor, a forma particular como se dá o encontro do rural com o urbano que se materializa na cidade de Itaperuna.

 


 

Cirlene Jeane Santos e Santos

A pesquisa ora apresentada tem como temática principal a análise das estratégias de reprodução camponesa desenvolvidas pelos grupos de Fundos de Pasto localizados no município de Oliveira dos Brejinhos (BA), com uma detida análise desse processo no Fundo de Pasto Várzea Grande. A reprodução social destes grupos foi fortemente afetada pelo movimento contraditório desencadeado pelos conflitos vivenciados por eles a partir do final de 1960, o que impulsionou sua consciência de classe no transcorrer das lutas pelo bode solto e da luta na/pela terra. Essa consciência foi mobilizada na defesa dos costumes e das práticas tradicionais que regulavam a vida dos/nos grupos. É nesse movimento que se estruturam as condições de transformação desses camponeses enquanto sujeitos políticos, condicionados a uma conjuntura histórica circunscrita e particular, ao mesmo tempo em que os insere em um caleidoscópio de possibilidades e de caminhos a partir daquele momento em diante: da superação da opressão exercida pela sociedade em geral à expansão do capital mercantil regional no interior dos grupos. É abordado o processo histórico de instituição das terras de uso comum na Bahia com ênfase no pastoreio comunitário de caprinos no sertão do estado. Também são examinados a organização socioespacial do grupo, seu modo de vida, as relações de parentesco e vizinhança, os mecanismos de produção, circulação e consumo estabelecidos e a sua rede de sociabilidade. Evidencia ainda, o papel da migração como estratégia de reprodução camponesa nos fundos de pasto, considerando o ficar e o envelhecimento dos que permaneceram na terra; o partir e o absenteísmo nas propriedades; e o retornar, como um dos motivadores da diferenciação social no interior do grupo. Por fim, explora a questão do ser ou não ser camponês e busca contextualizar a tragédia dos comuns nos tempos da precarização do trabalho e da inserção do fundo de pasto na ciranda do capital mercantil regional.

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Cláudia Delboni

Este trabalho analisa a trajetória do Grupo Mulheres da Terra, cuja formação ocorreu na área II do Assentamento de Sumaré, no ano de 1985, no Estado de São Paulo. O grupo possui um percurso histórico de 22 anos, na perspectiva de conquistas sociais garantidas na Constituição aprovada em 1988 - terra, trabalho, moradia, educação, transporte, saúde e eqüidade nas relações de poder entre homens e mulheres. Estes foram temas que nortearam suas ações, que engendraram conquistas para todos os membros do assentamento. O percurso da pesquisa conduziu-nos ao encontro de vários atores sociais, envolvidos em diversas estratégias de resistência e circunscritos às ações de inúmeros mediadores sociais, empenhados na defesa da reforma agrária. Ao longo de duas décadas, inúmeros projetos foram desenvolvidos entre o Grupo Mulheres da Terra e os agentes mediadores. Muitos encontros e desencontros aconteceram pelo caminho. Para compreender o papel da trajetória do Grupo na história do assentamento e nas relações de gênero dentro do mesmo, como percurso de movimento social que se consagrava como espaço da luta pela terra, tomamos a História Oral de Vida das mulheres que participaram da trajetória do Grupo Mulheres da Terra da área II do assentamento de Sumaré como uma das fontes privilegiados de nosso estudo.

 


 

Cláudia Maria Costa Alves

0 objetivo deste estudo foi o de demonstrar como um conjunto de práticas que se vincularam à atividade militar no exército imperial contribuíram para a geração de um grupo de intelectuais militares que se tornaram sujeitos da ação política nadécada final do Império do Brasil. Tínhamos por pressuposto que o ensino ministrado na Escola Militar, pelo conteúdo que reunia formação científica e literária, como fundamento do conhecimento técnico militar, proporcionou a base intelectualpara a ação política. Ele seria, entretanto, insuficiente. Por isso, foi fundamental sua associação ao exercício prático de direção oportunizado pelas funções que uma parte dos oficiais foi chamada a assumir no interior da corporação. 0 trabalhointelectual adquiriu, para este segmento da oficialidade, um caráter de construção social, distinto do caráter ornamental que possuía para outros grupos da sociedade imperial.0 lugar destinado ao exército brasileiro naquela sociedade, vinculadoà necessidade de modernização imposta aos exércitos profissionais que se organizaram no ocidente, no século XIX, levou-o a incorporar atividades de produção industrial, de produção de conhecimento e de escolarização. Delimitou-se, dessa forma,no Estado Imperial traspassado pela força do poder local, um campo de experiências aliadas à construção de espaços de modernização e de vivência de realização do Estado Nacional. A partir dos interesses e práticas internos à corporação, foi-seelaborando um discurso que   configurou um projeto capaz de aglutinar uma parte da corporação, calcado no exercício da ) argumentação e do confronto com o próprio poder de Estado. Mesmo minoritário, o segmento da oficialidade que - para além das diferenças de patentes, de armas, de formação, de postos, de posições filosóficas e de filiaçõespartidárias - foi capaz de construir uma unidade de pensamento e ação, apoiada sobre os interesses fundamentais da corporação, tornou-se dirigente, dando o tom dos acontecimentos que envolveram o exército na década de 1880.

 


 

Claudia Moraes de Souza

A década de 50, no Brasil, apresenta os elementos fundantes de uma nova reconfiguração do Estado que se realiza pelos processos resultantes tanto da crise da oligarquia agrário-exportadora como dos novos elementos oriundos da articulação do capital nacional com a internacionalização dos processos produtivos no pós-guerra. Ao Estado Nacional, cabia o papel de adaptar as instituições e o espaço nacional às novas características da acumulação do capital mundial. Na perspectiva de promover a expansão do capital pelo território e se deparando com o "atraso" de determinadas regiões, ou melhor, diante da Questão Regional, o Estado populista atuou no sentido de apresentar Questões Nacionais que pudessem, ao mesmo tempo,encobrir desigualdades e contradições, efetivar seu papel de gerenciador, e ainda, atuar sobre a desigualdade territorial. A Questão Educacional, neste momento, foi eleita Questão Nacional. Supunha-se que a Nação, apenas atingiria sua maturação e conseqüente modernização quando a Educação tivesse atingido a todos os cidadãos. O Estado, a Igreja e a sociedade civil elaboraram diferentes formas de intervenção sobre esta Questão. A Educação de Base e a Educação de Adultos, segundo estatística, traria resoluções aos impasses relacionados à modernização, industrialização e urbanização crescente do país. Este trabalho propõe a discussão das relações entre instituições políticas do Brasil contemporâneo e a Educação. Tese de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, sob a orientação da Profa. Dra. Zilda Márcia Grícoli Iokoi.

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Cláudia Moraes de Souza

Em Pelas Ondas do Rádio: Cultura Popular, Camponeses e o MEB analisamos a participação de camponeses do nordeste brasileiro no Movimento de Educação de Base. A perspectiva da tese é a de demonstrar como os trabalhadores envolvidos com as escolas radiofônicas elaboraram ações para manutenção e reprodução da escola em sua comunidade, visando obter os benefícios necessários à reprodução e melhoria de seu modo de vida. A partir de representações políticas e culturais singulares, dentre as quais vigoraram: um sentido para escola, um papel para o sindicato e para participação política, preceitos do direito de uso da terra e dos direitos do trabalho, assim como, sentidos múltiplos para o uso do rádio como meio de comunicação, informação e lazer, os camponeses do MEB, foram coadjuvantes da proposição católica modernizadora de inícios de 1960. Isto posto, queremos demarcar que a ação do camponês nordestino e seu engajamento político, seja no MEB, nos sindicatos rurais, nas Juventudes Agrárias Católicas (JAC´s), no MCP, e nas mais diversas instâncias dos movimentos sociais do período, não se apartaram do processo modernizador. Neste sentido, consideramos que se a modernização brasileira foi pauta das instituições, organismos políticos e partidos, no movimento social, ela foi pauta de reivindicações baseadas em elementos da vida material, que envolviam diretamente, naquele momento, a questão agrária, a questão educacional e cultural e as questões do trabalho.

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Claudio Artur Mungói

A pesquisa tem por objetivo analisar as políticas agrárias que influenciaram o processo de transformações territoriais e induziram a adoção de novas estratégias de reprodução social da família rural na região agrária do Chókwè. Para tanto, a partir da aplicação do método dialético, centra-se a análise no papel do Estado com os seus modelos de desenvolvimento e também no mecanismo interno de organização da unidade familiar, bem como de outros poderes fora da esfera pública. As políticas agrárias adotadas pela administração colonial e do Moçambique independente induziram a novas dinâmicas territoriais cuja expressão traduziu-se na implementação de modelos produtivos e de organização do espaço que por um lado, trouxeram para a região do Chókwè a contradição entre a grande propriedade, provida de recursos tecnológicos, mão de obra assalariada e proteção do Estado e, por outro, uma produção familiar voltada basicamente para a subsistência da família e com pouca ou nenhuma proteção do Estado e inserção no mercado. A expropriação de terras, a imposição de novos padrões produtivos e de povoamento, a política de créditos, a guerra, as calamidades naturais constituem fatores estruturais que limitaram o desenvolvimento da produção agrícola familiar. A família rural recebeu pouquíssima atenção no período colonial e foi desencorajada durante a primeira década da independência nacional, quando a política agrária favoreceu empresas estatais e a coletivização da produção. Os 16  anos de guerra civil e a situação de emergência foram outros fatores que limitaram severamente os recursos governamentais destinados ao apoio a estas famílias. A paz e o programa de reabilitação econômica trouxeram novas territorialidades para o país e região, onde a produção agrícola familiar, pela primeira vez, passou a constituir prioridade de desenvolvimento, sobretudo através do Programa de Investimento Público do Setor Agrário

 


 

Clóvis Pereira dos Santos

O obscurantismo da letra lacaniana, as crises institucionais e o hermetismo da metapsicologia podem ser superados em favor das contribuições teóricas que o lacanismo poderia fornecer à historiografia da cultura. Este trabalho defende que esta assertiva já estava inscrita às proposições multidisciplinares tanto da escola dos Annales quanto dos textos ditos sociais de Freud. Assim, em uma estratégia progressiva que contemplaria tanto leitores novos às temáticas metapsicológicas quanto, espera-se, outros já mais experientes, os dois primeiros capítulos são introdutórios ao jargão lacaniano, o terceiro e quarto, reflexões sobre o estado da arte, conquanto os dois últimos constituem casos da metapsicologia aplicada à crítica ao discurso do capitalista, uma das principais contribuições da psicanálise de orientação lacaniana aos saberes ditos sociais.

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Cristiano dos Reis Souza

A presente pesquisa analisa as comissões de fábrica da MWM Motores Diesel; da Ford do Brasil - unidade Ipiranga; e da Rádio Frigor (ou Coldex Frigor) no período de 1978 a 1984. Elas surgiram durante as greves metalúrgicas de 1978, na capital paulista, em um momento de ampla movimentação política pela reconquista das liberdades civis, contra o regime de exceção instaurado no país em 1964.A organização dos trabalhadores nos locais de trabalho foi tema de debate tanto para os militantes operários de esquerda quanto para empresários e profissionais de recursos humanos, aparecendo na grande imprensa, bem como na de âmbito sindical. Foi também escopo de disputa política entre grupos de concepções ideológicas diferentes e, em certos aspectos, conflitantes. O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, o maior sindicato da América Latina, contava com aproximadamente 400.000 (quatrocentos mil) metalúrgicos em sua base territorial, era caracterizado por práticas de assistencialismo e de delação de operários combativos às empresas e aos órgãos repressivos da ditadura militar. As comissões de fábrica foram eleitas pela Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo (OSM-SP) como a maneira de se opor ao imobilismo da diretoria do Sindicato e à estrutura sindical brasileira.

 


 

Damião Duque de Farias

A tese de doutorado apresenta reflexões acerca das transformações da Igreja a partir de meados do século XX, que culminariam na formação da pastoral popular ou progressista católica. A análise tomou como objeto de estudo a Arquidiocese de São Paulo, no período considerado. Procurou-se ao longo dos três capítulos compreender a evolução do catolicismo, enfatizando tanto suas relações internas quanto suas relações externas com a política e sociedade brasileiras. Buscou-se um ponto de vista abrangente, postulando, por meio da crítica documental e bibliográfica, que a pastoral progressista católica, formulada a princípio dos anos 70 sob a liderança de Dom Paulo Evaristo Arns, qualificou-se por um certo romantismo, a um só tempo revolucionário e conservador, estando enredada nos limites do projeto da instituição-Igreja, os quais impediam uma práxis verdadeiramente radical e transformadora das relações sociais.